quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Da mentira, o desdém


Eles falam que não querem, que não precisam, que tudo isso é bobagem. Falam que é passado, que não importa mais. Falam com desdém inigualável, tentando demonstrar repulsa somente pela lembrança. Falam e mentem, pois sua natureza é mentir, aprenderam que, quando não se tem uma coisa, deve-se desdenhá-la, fingir não querer, fazer de conta que é bobagem, que não se precisa de tal coisa. São criados para mentir, para fingir, pela e para a inverdade. São criados para serem falsos. Por isso são culpados apenas dois terços por serem o que são. Poderiam sim, mudar, escolher não mentir, não fingir, demonstrar a verdade mas não, acomodaram-se e passaram a fazer parte de um mundo comum, rotineiro, mentiroso. Passaram a defender esse mundo. Eles mentem, continuam fingindo que não, mas sabemos que é mentira. Porque eles querem. Eles desejam. Ambicionam. Sonham como crianças inocentes, fantasiam ilusões irreais. Tão irreais quanto suas verdades mentirosas. Coitados, quem abre os olhos por poucos milímetros e alguns segundos vê claramente que são apenas mentirosos.

Incomoda um tanto considerável seu desdém. Irrita, perturba, chateia. E irrita novamente. Porque a mentira quando entra em um lugar não habituado a ela faz isso, irrita, perturba, faz sujeira, deixa sujeira. As verdades sobressaem quando seus emissores não são covardes. Profetas da verdade, de verdade, não mentem, pois a verdade está com eles e eles a fortalecem, fazendo-a imperar sobre uma mentira casual e mísera que possa surgir. 

A verdade impera quando não há um cômodo transmissor de si.

Antes de pensar no que você está sentindo, pense se você está sentindo alguma coisa. Muitas vezes a superficialidade de uma suposição leva ao irreal, à fantasia boba, à mentira. Porque um sonho mentiroso é medíocre.

Tão medíocre quanto aqueles que desdenham o que querem, mas não podem ter.

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