quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Histórias do Bandiolo - Agora, então


Os passos eram pesados como nunca haviam sido, fosse pelo peso sobre a cabeça ou sobre suas costas. Caminhava com dificuldade, com lentidão sofrível e digna de pena. Cabeça baixa, olhava para o chão pois não conseguiria levantar caso tropeçasse. Fraco, instável, desgastado, suas forças estavam direcionadas aos pesados fardos que carregava e aos lentos passos, necessários para que não morresse ali mesmo, com tudo aquilo sobre si. Não poderia deixar nada daquilo para trás por isso, mesmo que custasse o mínimo que lhe restava, continuava a carregar aquela enorme quantidade de... o que era mesmo? Ah sim, coisas do passado. Visíveis e invisíveis, pesadas como nenhuma outra fora no presente. Talvez pelos anos que haviam corrido desde o surgimento de cada uma delas, talvez pelas lágrimas que encharcaram-nas ou, quem sabe, por estar sozinho desde algum então. Seu pai lhe ensinou a nunca baixar a cabeça. Ninguém deveria se curvar ao mundo, ao tempo ou a qualquer outra pessoa, dizia. Baixar a cabeça era sinal de fraqueza, ainda mais para si. Seu pai era sábio porém não poderia fazer jus ao seu conselho. Seus olhos ardiam pois a luz do sol refletia no chão seco, carente de gotas de água. Seus pés e suas mãos tremiam. Fraco, incapaz, lembrava de seu pai e o remorso por não poder fazer o que lhe fora dito transformava aquela situação na pior já vivida. Pelo amor, pelos amigos, por erros ou qualquer outra coisa presente ali, naquele pesado passado. Não tinha mais forças, deixou que tudo aquilo caísse no chão. Assim como ele caiu, exausto e acabado. Cercado por tudo que com vontade e sem razão carregava, estava com a cara no chão. Percebeu que, embora estivesse no chão, não estava mais de cabeça baixa. Talvez seu pai, se ainda vivo, lhe desse uma surra ouvindo isso. Dormiu com um sorriso delirante nos lábios.

Horas, quem sabe dias, depois, levantou. Organizou o que estava ao seu redor e, para sua surpresa, muita coisa havia ficado de fora. Então seguiu, deixado uma parte de seu passado para trás. Dessa vez, sem remorso algum.


*do nada para palavras vindas de pensamentos distantes, 
sem muito significado.

2 comentários:

Rebeca Postigo disse...

É tão bom quando as palavras fluem...
Às vezes não precisa fazer sentido...
Apenas escreva...

Bjs

Mulher na Polícia disse...

Oi Vini!!!

Não sei se isso é bom ou ruim para o escritor... mas não consigo ler teus textos sem achar que é auto-biográfico.

O sofrimento, por pior que seja... há de passar.

: (