sexta-feira, 4 de maio de 2012

Histórias do Bandiolo - Mesmo dia, mesmo dia

Todo dia, 18 horas.

Mesma seção do mesmo mercado. A padaria.

Todo dia, 18 horas, com dois reais e cinquenta centavos.

Pão cacetinho*. Meia dúzia.

Não estava preocupado para o que as pessoas que sempre o viam lá poderiam falar.

Até porque, elas também iam ao mesmo mercado na mesma hora.

18 horas.

Há tempos não sentia-se mais um paranoico compulsivo.

Mesmo que seguisse os mesmos passos todos os dias, na mesma hora dia pós dia.

Jack Nicholson foi um brilhante e compulsivo paranoico 'As good as it gets'.

Ele também poderia sê-lo, então.

Ela, a atendente da padaria, seria sua Helen Hunt.

Ele seria Jack Nicholson.

Aliás, ele já era, só faltava ela.

Hoje, ah sim, hoje iria perguntar se ela...

Parou em frente à padaria do mercado.

O mesmo mercado de cada dia.

18 horas.

Parado, viu-se olhado.

Para ela.

Sorriu e...

...começou a rir. Esqueceu o que ia dizer.

O que ia pedir.

Ela deu às costas a ele.

Ele continuava a rir.

Tudo aquilo era ridículo.

Ele era ridículo.

Porém engraçado.

Virou as costas e saiu.

Ela não sentiu sua falta.

Ele não sentiu falta dela.

Mas os curiosos que sempre o percebiam sim, eles sentiram sua falta.

Sentiram falta de quem falar.

E rir.

Agora ele ria deles.

Dela.

E de si.

Saiu, sorriu.

Que bobagem!

Aliás, que história é essa de Jack Nicholson, ein?

*para os brasileiros, pão francês

Um comentário:

Anônimo disse...

para os afrescalhados, pão francês*

não resisti.
ashduiashdiusahdas

Gaby