sábado, 19 de maio de 2012

Histórias de uma vida não vivida (46)


*A natureza, por si só, está intimamente ligada ao tempo. A natureza, de alguma forma, é o próprio tempo. A existência só nos é Permitida porque, além de muito amor, há um grande propósito para cada um. Tirando a parte filosófica da coisa e focando apenas no ato de fazer parte de um conjunto infinito de seres vivos, incluindo o próprio ambiente temporal, percebe-se passagem, vaga porém nada inútil, quando olha-se para um céu cujas nuvens se movimentam despreocupadas, sem a obrigação de deixar cair água aqui ou ali. Ato relativamente espontâneo, não explicado em absoluto que dá uma noção da dimensão absoluta que é o espaço. E o tempo. Atemporal é aquilo que foge dessa segunda palavra, que não deixa de ser uma regra. Fora do tempo está aquilo que, ou não existe, ou não corre com ele - e aqui não consigo imaginar coisa ou situação que se encaixe - ou, com uma ou outra objeção pseudointelectual,é eterno. Fazer com que algo seja atemporal não deve ser uma obrigação porque nada daquilo que é feito assim tem um grande sentido. A livre escolha traz a tona a condição essencial para que algo torne-se atemporal: o espontâneo. Quem busca a eternidade não a tem porém, quem vive a liberdade no Amor o tem, espontaneamente. O atemporal está nas mãos de quem sabe que o tempo é finito. Para nós.

Passei o dia inteiro olhando pela janela, vagando olhares em direção ao horizonte. Tão próximo localmente, tão distante quanto o pote no fim do arco-íris. Quanto mais busca-se ir além, mais longe parece-se estar do mesmo. Utopia pura e simples, sonho impossível de todos que querem fugir de si. Não é o meu caso. Meu olhar não era de quem desejava estar em outra vida, em outro tempo, em outro espaço.

Enquanto as nuvens passavam, a sensação de que tudo estava passando rápido demais surgiu. Assim como nuvens passam, com rapidez proporcional a sua existência, o tempo parecia passar mais rápido do que eu poderia estar vivendo a minha vida. Enquanto uns lá fora corriam, outros cantavam e outros, mais desperdiçadores de tempo do que eu, dormiam, estava olhando para o céu com... alguma vontade de fazer aquilo tudo parar.

Isso tudo parar.

Vontade essa que, levando em conta o momento atual, não faz sentido algum. Não há nada de especial, nada que beire o sublime, acontecendo ultimamente. Semanas, muitas, atrás, sim porém hoje, não. Nada está sendo significativo o suficiente para querer que o tempo em si pare e a vida continue sem... contradição mas enfim... sem passar. A inexistência da possibilidade de fazer parar as nuvens até que derramem-se sobre lugares específicos faz sentido quando trazida para essa relação vida/tempo/linearidade.

A vida é um fator linear porque o tempo é linear. Não há voltas, devaneios, teimosias em repetições ou aleatorizações. A natureza, embora trabalhe com a repetição de ações, o faz em seres e ambientes diferentes. Aceitar que uma nuvem não pode ser parada até que chegue sua hora de esvair é dar crédito à inevitável continuação de sua breve existência, levando em conta que há uma finalidade na mesma. Querer pará-la, por qualquer motivo, é ir contra o que é natural, tentar fazer de uma presença temporal uma existência temporal, manipulando indevidamente o que não se deve - e felizmente não se pode - controlar.

Enquanto olhava para as nuvens passando, pensava no tempo. Distante estava meu pensamento. Distante está minha espontaneidade. Longe, muito longe, está algo que possa, algum dia, me fazer querer parar o tempo.

Espontaneamente significativo.

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