- Bom, se não quiser dizer mais nada, vou indo porque...
- Já?
- É, acho que terminamos de conversar o que tínhamos de conversar, então...
- Você está bem?
- Sim, estou, por que?
- Você disse que ficaria mais se eu tivesse algo para dizer então... eu tenho.
- Então diga.
- O que você tem feito?
- Em que sentido?
- Em tudo.
- O de sempre, estudo, leitura, escrita, tenho feito palavras cuzadas, tentado aprender em vários sentidos, missa, orações... o de sempre.
- E alguma dessas atividades você faz acompanhado por alguém?
- Às vezes.
- E...
- Eu sei o que você quer perguntar, então pergunte logo.
- Está saindo com alguém?
- Depende de quem vai aos lugares. Às vezes saio com os amigos...
- Você entendeu.
- Não sei se preciso responder. Por que a pergunta?
- Achei que poderíamos, sei lá, sair e conversar.
- Estamos conversando.
- Ai, não se faz.
- Não sei o porquê disso agora mas não, não estou saindo com ninguém, não tenho um relacionamento com ninguém.
- É que eu...
- Você nada.
- Você nem sabe o que eu iria dizer.
- Disse pelo que imagino, logo...
- O que?
- Você sabe.
- Não estou entendendo.
- Nem eu o que você quer de mim.Conversamos sobre algo sério, impessoal, pronto, acabou, é só isso.
- Você não falaria assim se não estivesse gostando de alguém...
- Já saí da segunda série do fundamental para ainda 'gostar' de alguém e, bom, falaria sim.
- Então tem.
- Sim, e?
- É que eu pensei...
- Esquece, há coisas que precisam morrer para que outras, melhores e verdadeiras, possam surgir.
- Então não era verdadeiro?
- Eu fui, o que eu senti foi, do resto não posso falar...
- Se tem mesmo de morrer, como você disse, então morrerá outras vezes.
- Exato porém, o que você ainda não entendeu, quero que da próxima vez algo significativo, duradouro e intenso passe a existir, com a mesma pessoa, ao contrário do que aconteceu conosco.
- Por que não deu certo?
- Você deve saber, eu não penso mais nisso.
- Por que?
- Cansei de entristecer-me por isso. Pensar em porquês me desanimava, tirava a minha alegria, a minha vontade. Parei com isso quando percebi o quão mal me fazia porque, inconscientemente, eu ainda esperava.
- Mas eu...
- Claro que não, nunca disse nada, por isso eu disse 'inconscientemente'.
- Então..
- É, então é isso, não tenho mais o que dizer.
- Estou decepcionada com você.
- Porque não fiz a sua vontade? Porque o que havia entre nós acabou? Porque estou sendo sincero?
- ...
- Em nenhum momento reclamei ou menti, fiz você acreditar que as coisas voltariam ao que eram, etc. Em momento algum.
- É, mas...
- Fim.
Virou as costas e saiu. Com a convicção de que esse fim seria real.
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