terça-feira, 12 de abril de 2011

Não para de tocar


O dia amanhece, os raios do Sol impedem que meu sono prossiga. A madrugada é passado, como o descanso, como a tranquilidade do tempo que passa sem que meus olhos vejam e minha mente perceba. Meu corpo é um mero detalhe na imensidão de vida que há no mundo. E tudo o que, partindo dos raios do Sol, passa a ser visto é benção, é maravilha. 

A música então começa a tocar.

Em cada passo, pequena decisiva escolha, o tempo que caminha volta e meia corre, volta e meia parece parar para tomar um chá com as senhoras inglesas. Os raios de Sol são cada vez mais presentes, as cores das flores e o sabores dos frutos ganham vida, intensidade, variedade muitas vezes indescritível. O passar desse ou daquele momento torna-se detalhe na imensidão do detalhe invisível de uma luz que vem de longe, que vai para todos os lugares de maneira tão complexa que seria deixar o tempo passar em vão tentar encontrar uma explicação definitiva. Enquanto passa, ela continua compenetrada no ambiente, voando suavemente às cegas de olhos que nem bem conseguem ver o que o Sol produz, quanto mais o que de um instrumento pode sair.

O tempo andou e a música continua a tocar.

Em cada movimento uma imensidão de movimentos mais. Pouco se percebe além do todo, mas é de pequenos todos que se forma um grande todo, como um passo. Bobagem? Os músculos, nervos e até ossos de meu corpo dizem o contrário enquanto caminho, ou mesmo escrevo. A empolgação pela beleza visual do ambiente chamado natureza, iluminado pelo imponente Sol, vai terminando. São tantas manchas escuras, paredes erguidas em segundos, buracos cavados em décimos ou milésimos, seja lá qual miséria temporal dita rapidez exista na maldade do mundo incrustada até mesmo no mais belo dos corações, e tudo isso para impedir que o Sol ilumine tudo que é dádiva, tudo que afasta do terrível e aproxima do paraíso. A tristeza, o cansaço, a decepção e a mágoa surgem ou voltam porém... 

A música não para de tocar.

O céu escurece, as nuvens escuras tomam conta do céu azul claro. As horas passaram, o dia também, é quase noite. A água que desce de um céu agora obscurecedor dos raios do Sol pode lavar toda essa sujeira jogada por cima de um corpo que fisicamente continua limpo. A mente não encontra razões, o coração nem sente mais. A chuva cai, derruba tudo isso, aduba a terra para que a vida nasça no novo dia, novamente com o Sol brilhando, iluminando, aquecendo. Claro ou escuro, esperando pelo que não se vê, não se ouve, não se tem e não se pode ter, tanto faz.

A música não para de tocar.

O tempo que não é contado, as horas que se repetem em números, jamais em existência, tudo isso traz o bom e o ruim. O Sol que ilumina e faz nascer mas que também pode cegar. Há muitas batidas arrítmicas inexplicáveis. Experiência de quem já voou alto e instantes depois veio ao chão. Da demonstração em um sorriso para o semblante fechado e as palavras cessadas. O tempo passa, leva muitas vezes, traz algumas outras. Não é questão de vontade, talvez não seja nem de merecimento. É muito mais de escolha, de cada pequena escolha. Sempre pelo Sol que dá a vida e não pelo que impede de vê-la. Pela chuva que alivia e não pelas gotas d'águas que trazem palavras insensatas e injustas. Pela espera que ameniza a dor e não pela que traz a lágrima.

E no final do dia, o silêncio deixa de existir quando percebe-se o pequeno detalhe:

A música não para de tocar.



*a melhor versão da música é essa: The Cure - High (acoustic).

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