sábado, 28 de setembro de 2013

Pedaços de um pensamento (78)

Pensamentos diversos, e em quantidade suficiente para gerar frases conexas entre si - ou algo bem próximo disso, depois e não é difícil perceber que aquilo que se espera, e se quer, de alguém não passa longe daquilo que se quer em si, para si. Não querendo que o outro vire-se inteiramente para si em um gesto egocêntrico e mesquinho.

Isso é infantilidade.

O ponto em questão está acima, não por ser superior e, sim, mais profundo, relevante, algo que foge da compreensão de quem acha que o seu umbigo é como o Sol e as outras pessoas devem, obrigatoriamente, girar em torno dele. Relevância essa que pode ser constatada quando tem-se então a desistência de algo exclusivamente seu para querer um bem que englobe, pelo menos, um eu além do meu. Do seu ou de qualquer outro eu que vague por aí nessas ruas de clima intenso e nada constante.

Isso não leva, é bom ressaltar, ao ponto da hipocrisia pois, não resta dúvida, ainda existe inocência nisso. A pessoa que olha para outra e sugere - porque mesmo palavras mais intensas não deixam de ser uma sugestão - algo a ser feito ou uma mudança a ser iniciada está, no fundo, querendo um exemplo prático e familiar de como é possível que isso, ou aquilo, aconteça na vida de alguém relevante para si.

Exemplificar é sempre melhor. Ver esses exemplos, na prática, é melhor do que somente tomar conhecimento de suas existências. O significado dos mesmos para alguém que precisa deles é, então, maior quando alguém próximo a si os dá. No fundo todos queremos alterar algo em alguém para que tenhamos a coragem, a motivação ou apenas um baita motivo para fazer o mesmo em nós. Em se tratando de coisas que envolvem mais do que um umbigo, é bom deixar claro.

Quando há a fuga desse desejo de ver e ter como quase parte de si um exemplo, necessário para a própria mudança ou atitude, abandona-se qualquer suavidade inocente nas palavras, qualquer desejo singelo e até mesmo puro, para entregar-se desgraçadamente a um egoísmo sem igual.

A tolerância, a compreensão e o respeito pela individualidade alheia - mesmo que essa pareça a mim um tanto estúpida ou ridícula - são esquecidos quando há a tentativa inescrupulosa de mudar algo apenas por ser vontade própria.

Vejamos, então, algo mais próximo do entendimento distante dos meus neurônios - às vezes penso que essa tentativa inconsciente de escrever um auto-ajuda gratuito e sem baboseiras (ao menos explícitas) não tem qualquer relevância, de fato. Ah sim, dois pontos:

Suponhamos que João e Joana sejam amigos. João e Joana são parecidos, tem qualidades e defeitos próximos. Também por isso a amizade é boa para os dois. João, entretanto, percebe que há em si um defeito... digamos, a inveja, que ele quer mudar por perceber que... inveja é algo ruim. Ele olha para Joana e vê um pouco de si, um tanto dessa inveja, nas palavras dela. Que são parecidas com as dele, portanto. Ele, João, quer mudar, fazer diferente, não deixar que a inveja aja em seu dia a dia. Então conversa com Joana sobre isso, dizendo-lhe para não ser mais invejosa após ela expressar sua indignação com a vitória alheia só porque... a vitória não foi sua. João não pensou três vezes ao dizer que ela estava sendo invejosa e blá. Ele, portanto, sugeriu que ela mudasse para que ele também fosse capaz de mudar. Pediu uma ajuda indiretamente. Inocente, de alguma forma. Não pensou que Joana fosse invejosa por inteiro, como não pensava isso de si.

Exemplo claro? Talvez não. Não importa. Assim como a reação de Joana não vem ao caso.

Não quero abrir esse pensamento mais. As formas de conduzi-lo são, por fim, diversas demais. Mas acho que todos nós precisamos de um apoio, de um exemplo próximo para mudar em nós aquilo que queremos e, para isso, procuramos em alguém esse mesmo algo a ser mudado. Talvez não seja muito justo isso, talvez não seja a melhor escolha, talvez e, possivelmente, não dá certo e é plausível pensar que muitos relacionamentos, de qualquer tipo, foram destruídos por esse desejo pessoal, e aparentemente egoísta, de querer ver mudanças em alguém - quaisquer que sejam elas - para conseguir mudar a si. Conta muito o jeito de falar e tantos outros pontos.

Conta muito a intenção real, o sentimento interior. E tal e coisa.

Não há conclusão clara. Tampouco escura. Palavras limitadas de uma pessoa limitada.

Um comentário:

k. Ferreira disse...

"Conta muito a intenção real, o sentimento interior. E tal e coisa."

Quem pena que quase nada se faz transparente.Talvez tentar descobrir a real intenção do que foi feito ou dito.. a curiosidade.. não sei o desconhecido me atrai