quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Histórias do Bandiolo - A simplicidade não está nos olhos de quem vê

Ele sentiu-se vingado. Sorria debochadamente como se não houvesse amanhã apenas por estar sentindo-se vingado.

Não entendeu? Explico.

Eeeeestava eu, dias atrás, andando de bicicleta - sim, agora tenho uma bicicleta - no parque desta movimentada cidade. Não que goste de fazer essa coisa de esportes, de fazer parte da tal geração saúde e, tampouco, gosto de sair para, como dizem, ver gente. Aliás, é bom deixar claro que detesto isso, acho uma grande bobagem mas o fato é que, agora, minhas preferências não importam.

Voltando.

Enquanto entrava, pedalando lentamente - com medo de levar um tombo daqueles ao passar por um tapete de pedras lisas - na pista do parque, olhei para uma menina e, como é de praxe nesse ambiente utópico em que a realidade dá lugar a uma imaginação (atualmente) superficial, achei que conhecia a pessoa. Que ela fazia parte da minha vida e, enfim, que eu já havia parado tudo o que estava fazendo, em algum momento, só para vê-la.

Então, óbvio, olhei. E olhei. Sem dar-me conta que a bicicleta continuava andando - até porque eu não seria TAPADO o suficiente para parar de pedalar (embora não lembre de ter dado algum impulso naquela coisa de duas rodas enquanto olhava admiradamente para ela) enquanto olhava, curioso ou admirado, não sei, para aquela menina. Moça. Jovem. Visão do paraíso... digo, digo. Pois é. O fato é que, após alguns segundos, o sujeito que creio ser seu namorado, chegou e... olhou para mim como se eu tivesse feito a pior coisa do mundo ao olhar para aquela beleza toda que estava ao seu lado. Me olhava como se fosse crime olhar, e apenas olhar, para alguém do sexo oposto - ainda mais, adendando minha desculpa esfarrapada, quando se pensa conhecer a pessoa.

A irritação, dele, parecia não ter fim. Pareceu começar a reclamar com ela. Ela, no entanto, sequer havia notado minha presença e, provavelmente, não estava preocupada com mais uma das crises de ciúmes bobo dele. Porque, convenhamos, nenhum cônjuge que conviva com crises de ciúmes acaba dando muita bola, depois de algum tempo, para isso e, como ela parecia ignorá-lo (sim, eu ainda olhava para el... eles), suponho que fosse uma das centenas de crises de ciúmes daquele relacionamento. O carinha lá pareceu indignado demais. Irritado, olhou para mim e movimentou os braços como quem diz 'para de olhar, bicho triste, essa maçã tem dono'. Então decidi ir contra meu instinto e seguir adiante como se ela, aquela pessoa muito atraente - a mulher, não o carinha ciumento - não estivesse lá.

Olhei para frente e, bom, alguma coisa bateu na minha cabeça logo que virei-a. Tudo bem, minha cabeça bateu em alguma coisa que, possivelmente, estava parada lá há anos. Décadas. Quem sabe séculos. Uma árvore, estátua, não sei. O fato é que bati a cabeça naquilo e fui ao chão. A bicicleta seguiu alguns metros - também aqui nada passa de suposição - até cair. Não pensei no fato em si, a batida, queda, enfim. A primeira coisa que pensei, confesso, foi nas pessoas a minha volta rindo. Olhei para os lados e, felizmente, não havia ninguém por perto. Então pensei que ela, a bonita, e ele, o ciumento, poderiam ter visto.

Procurei-os discretamente - sim, discreto foi tudo o que não fui nesse caso - e os encontrei. Ela ria, alegremente, da minha queda infantil e ele, bom, a primeira frase do texto diz tudo. Não que eu tenha blá blá blá, já disse isso. Não havia nada errado embora compreenda sua irritação. Talvez - provavelmente - eu ficaria um tanto incomodado com alguém olhando para a minha... se eu tivesse uma.

Vocês sabem que... bom, não sabem.

Eu caí, levantei, continuei pedalando e... decidi aposentar minhas voltas de bicicleta pelo parque. Tudo muito dramático, impulsivo e impensado. Tudo por conta do medo de sentir uma vergonha imensa ao reencontrar aquele casal novamente. Porque é certo que eu voltaria a olhar para a namorada dele como se não houvesse amanhã.

Então é melhor que não haja amanhã porque, eu já disse, ela tem namorado. E ele tem ciúmes de mim.

E de todo homem vivo cujo campo de visão venha a ter sua namorada em si.

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