domingo, 3 de novembro de 2013

O vazio de viver e só (45) - A ausência


Tenho estado ausente.

Impossível dizer, com certeza, o porquê disso mas sim, tenho estado ausente. Das alegrias e das tristezas, dos sorrisos e das lágrimas, dos abraços e da solidão. Tenho estado ausente. Das palavras e do silêncio, das dores e das redenções, de todos os opostos e antíteses que surgem e desaparecem diariamente. Tenho estado ausente. De forma artística, até mesmo poética, das palavras que não são completas, dos pensamentos que não iniciam e dos projetos que, ou começam e não seguem adiante, ou nem começam. Tenho estado ausente. Com as vírgulas nos lugares errados, muitas vezes faltando a vontade de riscá-las nas frases tortamente escritas. Tenho estado ausente. Repetidamente dizendo isso, incansavelmente falando e jogando para fora tudo o que, segundos depois, pareço engolir, trazer para dentro novamente. Tenho estado ausente. Ritmo não falta e a conversa frouxa, e alta, não leva a lugar algum. Não traz de quaisquer ponto. Não tem forças, não tem sentido, não tem intensidade ou direção. Tenho estado ausente, até mesmo da coerência, da complexidade sensata e, ah, tenho estado ausente da sensatez irreverente que por vezes cansa sem cansar. Tenho estado ausente, da existência, do sobre humano, do eu lírico esquecido - ah, como era engraçado! - e das histórias malucas, desconexas, invenções. Tenho saudade das escritas espontâneas, do acaso e da liberdade para o Vento guiar.

Tenho estado ausente.

Lamentavelmente, da minha própria vida.

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