sábado, 28 de janeiro de 2012

Pedaços de um pensamento (35)


Hoje, se anotado a data específica, será lembrado como o dia do princípio de um vazio em minha vida. Acaba sendo estranho constatar que, em verdade, não foi uma escolha minha, não é consequência de uma opção, de um erro propriamente meu. É provável que, levado pela - com o perdão da redundância fonética - leveza, tenha preocupado-me muito pouco com toda e qualquer palavra dita. Enquanto uns recebem palavras sem preocupação, e as recebem bem, sorrindo e compreendendo que não foge muito disso o que posso oferecer a elas, outras não conseguem compreender que, ao contrário da maioria, não coloco intenção nas minhas palavras. Quem dera conseguisse me concentrar o suficiente naquilo que digo para colocar alguma intenção oculta, ainda mais sendo ela pessoal, específica e, pelo que me disseram, cheia de algum tipo de rancor. Nem em meus tempos radicais desejei o mal às pessoas, embora esperasse, sim, vê-las perdendo suas máscaras patéticas e, sem dúvida, deixei de colocar intenções verdadeiramente irônicas, sarcásticas e maliciosas ou afim, há, pelo menos, dois anos. A ironia boba, assim como o sarcasmo débil e a malícia cômica não podem ser julgadas como verdadeiras e profundas ironia, sarcasmo e malícia.

Entender que, além da literalidade das palavras, há uma vontade negativa naquilo que se escreve acaba sendo, no mínimo, falta de discernimento. Nem mesmo em tempos normais era compreendido em plenitude, não só pelas palavras - muitas vezes, sim, subjetivas - como também pelas maneiras com que tais palavras eram colocadas. Julgar que, por escrita seca, distante - e não da maneira correta, pelo som da voz e pelo olho - há uma impossibilidade em prosseguir com um relacionamento interpessoal acaba sendo, também sem dúvida qualquer, uma prova de que tudo aquilo para o qual é apontado a negatividade através de um dedo - indicador - faz parte também do próprio meio onde surge tal apontamento. A tomada, por si só, de uma decisão que não cabe, no fundo, a nenhuma mente pensante, prolonga a lista dos poréns em tudo aquilo que é, e foi, dito, pensado e também imaginado.

O vazio que se abre, hoje, é a prova de que ainda haveria muito a ser compartilhado, e isso fará com que a ausência seja ainda mais sentida. Buscando reduzir cada vez mais os meus erros, tentarei compreender, em totalidade, qual a minha parte nesse processo. Não há intenção de, por simples vontade, tentar compensar algo que foi tido como errado. Essa atitude só pode ser tomada quando não há decisão, de pelo menos uma das partes - como é o caso - no sentido de colocar um ponto final. A liberdade de escolha é uma constante na vida de todos. Sempre ficarei triste quando, como hoje, compreender que ainda haveria uma parte de ciclo a ser percorrida porém, o tempo já ensinou, a mim, que não há razão para argumentar quando os ouvidos se fecham para específicos tons de voz.

Independentemente da, à partir de hoje, não reciprocidade de amizade, continuarei pedindo à Verdade que conduza cada passo que será dado longe de mim.

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