quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Histórias de uma vida não vivida (24)

*Olhando para trás vejo muito mais momentos de tristeza do que de alegria. Mais reflexões do que ações. Mais erros do que acertos. Mais sonhos idealizados do que concretizados. Mais lamentações do que motivos para orgulho. Mais lágrimas do que sorrisos. Mais palavras do que imagens. Muito mais recordações de momentos ruins do que de bons. Lembranças vagas de um olhar que, provável e infelizmente, nunca mais verei. Nunca, não, nada, ninguém. Negações que generalizam tanta coisa que merece sim, ser generalizada. A dor, as tristezas, o arrependimento e quem sabe o aprendizado que cansam, até mesmo nas recordações. A intensidade da felicidade vivida em momentos, lugares e com pessoas diferentes que não apaga nada. Pelo bom e pelo ruim, eu continuo aqui.

Acordou e levantou da cama. Não, não era isso. Sentou. Fechou os olhos e concentrou-se na sua mente, ignorando os ruídos dos carros, o sol que nascia, a vizinha que caminhava de salto alto às 6 e meia da manhã. Seu pensamento volta e meia tomava uma direção que fazia-o arrepiar-se. Ele, sentado na cama ainda quente, pensando, lembrando. Acordado. Um sonho que parecia vir de um sono profundo. Um desejo inconsciente que vinha à mente racional de números, letras e de um tempo real. Sonhando acordado. Sonho esse que era rotineiro. Por isso a ideia de pensamento. Pensamento, ideia. Fazia mais sentido relacioná-los do que fazê-lo com um sonho.

Sonho, pensamento, ideia, que diferença fazia para ele naquele momento? Na linha sobre a qual caminhava, olhava para os lados sem saber qual escolher. Permanecer em cima da linha impedia a continuação da caminhada, daquilo que estava sendo ali, naquele instante finito e infinito. Nem bem acordara e já estava de frente com uma escolha peculiar. Termo novo naquele momento, estupidez. Inútil ainda por cima, com parte considerável das estupidezes(?) que... enfim, atrapalham pensamentos, raciocínios, textos e frases oralizadas.

Sem saber para onde ir, o que fazer. Desconhecia também o que pensar, ou melhor, o que continuar pensando. Entretanto, fosse um sonho, não deveria interferir. Sem distinguir, rir, com rima ou pela falta de qualidade da mesma. Rima? Era hora para pensar em rima? Sonoro não de negação, completa e imparcial do que não sabia distinguir. Desnecessário seria ponderar sobre a ou b, direita ou esquerda, pensamento ou sonho. Pudera, ele não sabia sequer se ainda estava acordado. Estado de alerta. Pensamento ou sonho tanto fazia, ele queria mais era entender o que aquela sensação de arrepio, aquele frio no corpo que não era febre, falta dela ou ansiedade, queria dizer.

Abriu os olhos. A parede precisava de um pano limpo para clarear um pouco. Chega, não era hora de pensar na parede. Que ela caísse sobre ele se assim conseguisse entender. Entendimento de um passado e de um presente tão irreais e confusos quanto a briga pelo domínio, entre sonho e pensamento. Quem sabe mais uma rima. Então veio agradecimento. Cansou daquilo também. Aquelas pessoas que queriam compensar suas faltas com agradecimentos por gestos tão rotineiros quanto sinceros. Disponibilidade, vontade e doação que não precisavam de palavras. Um abraço, um aperto de mão, tapinha nas costas ou... um olhar. Não queria muito mas cansou do pouco.

E tudo isso em pensamento. Ou seria sonho?

Se fosse estudioso diria que a adrenalina começava a ser produzida pelo... pela... não era estudioso. Que bebesse a adrenalina misturada com água se fosse o caso. Aquela intensidade que não existia começava a surgir, contradizendo-se em um corpo parado cujos olhos miravam o pouco branco da parede. Sentia-se vivo à partir do pensamento, da lembrança, da... que droga, raiva. Ele ali, ainda parado, pensando ou sonhando. Passado ou presente. Olhos azuis ou verdes. Mãos que tocam ou fazem sonhar. Pensamento em sonho. Sonho em pensamento. Nada disso importava. Estava vivo, mesmo que parado, ali, sentado na cama que agora não estava mais quente. Era demais para um dia inteiro. Horas haviam passado. Muitas horas foram.

Talvez viessem a ser mais horas quando voltasse a acordar. De um sonho ou pensamento, não tinha certeza do que viria.

4 comentários:

Érica Ferro disse...

Acho que há muito sou sonâmbula. Não sei quando acordarei.

Me identifiquei bastante com esse trecho:

"*Olhando para trás... continuo aqui."

É bom voltar a ler suas palavras.

Maria disse...

Eu gostei desse texto Vini (:

Marina disse...

Você é uma pessoa super fofa! *-*

Rívia Petermann disse...

Rimas,escolhas,arrependimentos...e reflexões.
Acho que todo mundo quando para pensar,vê bem perceptível essas coisas,que,ainda assim,são tão diferentes para todos.

E,particularmente,ignoro isso com tanta falta de sabedoria que tais coisas me assolam de modo quase venéreo - e deve acontecer isso frequentemente em todo lugar.
E não deixa nunca de ser difícil estar aqui.

Você escreve demais,sempre.Adorei os contrastes físicos e psicológico do texto...

Abraços!