terça-feira, 3 de agosto de 2010

O vazio de viver e só(8)


Preciso sentir raiva sem razão para consegui cuspir um pouco acima do chão, irritando alguma coisa aclamada, não rimada e, certamente, impensada. Rimas que retratam toda essa raiva de sentir raiva por algo que nada é além de pensamento, imaginação, com ou sem rima. Palavras que seguem, chegando ao perseguem, sem ter uma intuição, uma intenção ou qualquer outro ão, ou não, que termine uma rima que não existe, uma raiva que não existe, um texto que não existe. Em analogias passadas, fracassos. Resta ainda a insistência em pouca definição clara do que é ou não é. Do que foi ou não. Das histórias de uma vida, ou várias, não vivida. Pensamentos e então raiva. Lembranças e então raiva. Leitura e então raiva. Raiva. E mais raiva. Até que não haja mais força para motivá-la, olhos para inspirarem-na e dedos para transcreverem aquela que, complexamente, não existe, embora pareça ser muito maior daquela que um dia já foi sentida. Aquela que consigo trouxe um grande lugar escuro no qual era difícil ver. Uma mágoa escura, uma mancha limpada quase por completo. Um esquecimento que ainda insiste em levantar-se contra a vontade dominante, dona de si. Raiva que não existe nada se compara com raiva existente, ou melhor, que algum dia existiu. Complexo é sim sentir uma raiva que não é raiva. Tão complexo quanto seria sentir, quem sabe até viver, um amor que não é amor. Ou derramar uma lágrima seca. No fim, do nada surgiram mais analogias fracassadas. Só.

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