domingo, 22 de agosto de 2010

Histórias do Bandiolo - Eu não estava lá


Caminhou pouco, algumas quadras de sua casa até um lugar popular da cidade. Foi até lá sem qualquer motivo, apenas por caminhar. Um cigarro e uma bebida com os amigos? Que amigos? Eram todos desconhecidos e, mesmo que fossem conhecidos, fingiria não os ver para não ser mais um. Mais um a fazer besteira, perder tempo e não acrescentar nada para si, além de histórias pornográficas, críticas banais, fumaça nos pulmões e álcool no fígado. Nunca quis isso. Foi para ir, para passar, para movimentar as pernas.

Até aí tudo bem, apenas mais um ser que caminha, passa por algum lugar sem razão alguma. Apenas mais um. Para os outros, tanto fez. Para ele, não.

Em cada grupo de amigos ele imaginou. Em cada lanchonete, restaurante, bar ou mesa onde pessoas estavam entorno, ele imaginou, literalmente sonhou acordado. Acreditou, sem fé ou confiança, que poderia de um desses grupos de pessoas sair quem ele sabia que não encontraria, com a desculpa pela rima. Ainda assim, olhava atentamente no rosto de cada um, volta e meia vendo-a lá. Sem distração, sem aprofundamento, caía em si e ria, vendo-se um tolo que imagina situações com os olhos abertos, contradizendo toda e qualquer palavra julgadora vinda de quaisquer dois ou três que olhavam e, talvez percebendo sua falta de sintonia com aquilo tudo, riam.

Em cada passo, um novo pensamento, uma nova imagem, uma nova ilusão. Sabia que nada veria, que ninguém surgiria do nada, que ninguém sentiria nada ali, naqueles breves momentos passageiros. Mesmo em um futuro próximo não lembraria daquele dia, daquele momento, daquela situação boba, sem profundidade, sem verdade. Ou quase sem verdade.

Porque ele não era um deles. Ele era alguém que estava ali apenas fisicamente. Alienado, lunático, desligado ou... ou.

Não importa, já passou.

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