segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Histórias de uma vida não vivida (28)


*Passos que mudam de direção sem motivo certo. Dobrar à esquerda na rua seguinte apenas por achar que lá estará alguém, aquele alguém lá, é tão tolo quanto... dobrar à direita na rua seguinte, por achar mais uma vez que alguém, que aquele alguém, estará passando por lá naquele momento. Em um mundo gigante, cheio de ruas, esquerdas e direitas, só o que é forte demais para não ser controlado deve tirar do caminho, certo, rotineiro ou mesmo melhor. Mesmo que o melhor esteja na outra rua, do outro lado da calçada. Ainda que o melhor esteja apenas em um sonho.

Certas coisas acontecem porque precisam acontecer, pensou. Afinal, não queria sair de casa. Seus pais insistiram tanto para que ela fosse junto com eles... no supermercado(!) que ela largou seu msn por alguns minutos e decidiu dar aos seus pais a oportunidade da sua companhia. Supermercado era lugar de gente apressada, mesquinha ou esbanjadora. Gente que faz de conta que não tem tempo e reclama da fila grande, formada por ela e outras pessoas igualmente apressadas, mesquinhas ou esbanjadoras. Gente que critica os preços, a qualidade e até a atendente. Ah, aquela gente estressava-a. Ainda assim, foi. No caminho, ao parar do carro frente uma sinaleira, semáforo ou qualquer que seja o termo para aquela caixa de metal que acende uma luz verde, amarela ou vermelha, ela olhou para o lado e viu alguém. Ele! Ela pulou do banco, não sem antes sorrir e arrumar o cabelo no espelho da frente. Era ele! Depois de tanto tempo sem vê-lo, sem poder ouvi-lo, sem... ter coragem de responder às mensagens, os recados, os toques no celular... era uma boba, idiota, pensou. Mas como aquilo, a ida ao supermercado, a parada e a passada dele pela calçada não eram mero acaso, faria algo.

O sinal ficou verde, seu pai acelerou o que pode e seguiu em frente rumo ao supermercado. Ela gritou, estridentemente. Queria que o pai parasse o carro, fizesse a volta e fosse ao encontro dele. Ele! O pai parou, de susto, mas disse que não iria fazer retorno algum. Ela não se importou, abriu a porta, desceu do carro e foi correndo atrás dele. 40, 50 metros e ele estava a centímetros. Caminhou lentamente, alcançou-o e cutucou suas costas. Antes mesmo que ele virasse por completo para trás, ela o abraçou com todo o carinho que guardava, escondia, dele, do mundo, de si própria. Que tola fora todo aquele tempo. O apertou forte. Quando o soltou, olhou para o seu rosto e... ah não, não era ele. Não era ele!

Sentiu-se a maior idiota do mundo. Passou a odiá-lo. Sim, passou a odiar ele! Tudo porque ela errou o ele, o abraço, e o sair de casa para ir ao supermercado com os pais. Tudo por culpa dele. Dele!

Grosso, monstro, idiota!

*um tantão de suposição, um tanto de exagero, um tantinho de verdade.

2 comentários:

Maria disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Maria disse...

hahahahahahhaha
adorei o texto (: