quarta-feira, 2 de abril de 2008

A vida do Billi J. - parte 2

Só que um dia, seus colegas, inclusive as gurias, cansaram de ver Billi J. comer todo dia uma fruta e fazer um suco de laranja em um copo de café. No dia em que ele levaria banana, que geralmente era na terça-feira, decidiram que iriam acabar com essa mania. Ou o induziriam a trocar de escola. Seus colegas não o agüentavam mais. Só que Billi J. tinha problema de visão, talvez psicológico, e mesmo não tendo amigos nos seus colegas, nunca tinha reparado o quanto não gostavam dele. Billi J. nunca levara em conta o fato de ser o único a não ser convidado para as festas da turma como um sinal de que não gostavam dele. Billi J. sempre achou que um dia iriam mudar suas opiniões quanto à ele. Mas Billi J. estava enganado.

Chegou então a fatídica terça feira. Quando chegou o intervalo, chamaram Billi J. para longe da possível visão dos professores e, em um gesto rápido, tiraram a maçã e a laranja das mãos de Billi J. e pisaram em cima delas. Fizeram então Billi J. comer aquilo. Billi J. se sentiu ofendido. Magoado. Traído. Percebeu o quanto o seu problema de visão era uma desculpa que ele dava para aqueles que o ouviam, como eu. Desculpa que escondia o que ele sabia mas nunca quis ver. Nunca quis aceitar que ninguém gostava dele, só porque ele era, diferente.

Mas Billi J., não saiu da escola. Decidiu que como aquele era o seu último ano naquela escola, ficaria até o final. Pensou até em parar de levar e comer as suas frutas, mas mudou de idéia. Decidiu que não mudaria só porque foram ridículos com ele. Decidiu que se o fizessem comer novamente uma fruta esmagada no chão, que nesse caso era um baita gramado, ele comeria novamente. Billi J. decidiu ignorar o seu problema de visão. Billi J. decidiu não mudar, mesmo que qualquer um no seu lugar, mudasse. Billi J. agiu não como um guri, mas como um homem. Billi foi um gaúcho naquele momento. Um gaúcho macho.

Que viessem enfrentá-lo. Que viessem bater nele. Que viessem aqueles grandalhões com falsos músculos de academia. Billi J. não era forte. Billi J. não era inteligente, mesmo que gostasse de estudar. Billi J. não queria se vingar. Billi J. não era o que imaginavam. Billi J. não era um idiota. Billi J. não era o que seus colegas queriam que ele fosse. Porém, Billi J. percebeu que tinham inveja dele. Tinham inveja porque só ele tinha um grande pomar em sua casa no interior, por isso chamavam-no de colono. Billi J. percebeu que tinham inveja da sua educação, por isso fizeram-no comer frutas esmagadas contra a terra e contra a grama. Billi J. percebeu que tinham inveja da sua visão do mundo, por isso tentaram derrubá-lo.

Mas Billi J. percebeu, que acima de tudo, ele era um ser único. Quem mais agüentaria o que Billi J. agüentou (dadas às proporções de 8ª série)? Quem mais continuaria andando de cabeça erguida, sabendo que não deve nada a ninguém, mesmo tendo sido reprimido? Quem mais não se vingaria após uma humilhação dessas? Acho que só Billi J. Só ele conseguiria fazer aquilo.

Porque Billi J., esse sim, era um guri legal. Grande Billi.


*Billi não quer dizer necessariamente que tenha sido inspirado em Billy Joe, do Green Day


*Continua, ou não, em futuros textos ou capítulos ou partes de uma possível nova saga

2 comentários:

SiL disse...

realmente
ele eh um cara legal!

GrazieWecker disse...

o texto ficou legal, bem legal
é baseado em fatos reais?