segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Histórias do Billi J. - se eu contar ninguém acredita (3)

(continuando...)
O Billi J. não se mexia, porque imaginava que o desgraçado daquele velho carniceiro deveria ter uma pontaria mais precisa que qualquer atirador que tenha participado da Olimpíada. Parado, com mais de meio corpo submerso, mole de tanto ficar embaixo d'água, o Billi J., depois daquela rápida análise, parou para pensar em sua vida. Pensou em sua família. Seus pais, seu irmão. Pensou em Amanda, sua última paixão. Parecia que estava sentindo o cheiro dela. Quando se deu por conta, tentou abrir os olhos e via tudo preto. Haviam colocado uma venda em seus olhos. Continuou relembrando e, todo mole por causa da água, pensou em Renata. Em tudo o que sentia por ela, e que naquele momento, não parecia nada. A imagem de Renata parecia fugir. Ao contrário da de Amanda, que insistia em voltar à sua mente.

Estranha aquela relação de fuga e aparecimento. E aquele cheiro de baunilha no ar... era incrível como parecia que havia algum demônio de um alemão comendo alguma coisa de baunilha. E não ouvia nada. E não via nada. Percebeu que, de tanto ficar embaixo d'água, não sentia mais nada. Só conseguia cheirar. E aquele cheiro de baunilha havia se tornado maldito. Em silêncio, fez uma oração. Agradeceu à Deus por tudo e decidiu que juntaria o resto de suas forças, arrancaria sua venda e, mesmo que levasse um balaço daquele desgraçado velho alemão, iria tentar fugir e não se entregaria como comida para aqueles malditos alemães canibais que iriam dominar o mundo. Num ato extremo, levantou os braços e mesmo sentindo a morte bater à sua cara com uma bala, levantou a venda e pulou para fora do caldeirão. Estranhamente não haviam colocado fogo naquela porcaria, o que só fez com que o Billi J. não se queimasse ao encostar e nem cozinhasse dentro do caldeirão.

Caiu de cara no chão ao sair do caldeirão. Mas de cara mesmo. Esfolou a face esquerda do rosto. Mas ainda estava vivo. Continuou de cabeça baixa por alguns instantes. Criou coragem, mais uma vez, e levantou a cabeça. Olhou para os lados e nada viu. Ninguém. Nem o alemãozão em quem havia trombado, nem o guri de oito anos de idade e um metro e noventa de altura, nem a alemoa que o xingou e muito menos o filho da mãe do velho da espingarda. Não viu ninguém. Não viu mais nada. Voltou à árvore onde havia dormido, pegou sua mochila e seguiu caminhando pela estrada onde viera, como se nada tivesse acontecido. Quando viu aquele bando de alemão correndo atrás dele, começou a correr, mas não conseguiu dar mais do que três passos. A água o havia deixado mole. Caiu, mais uma vez, e pensou que aquele acaso de sair do caldeirão havia acabado. Levantou-se e ao virar-se, deu de cara... com seu irmão. Sim, o animal havia ido atrás dele. Chegara à pouco.

Conseguiu negociar o Billi J. com os alemães. Comprou o Billi J. por dois pacotes de bolacha maria e um pote de sabão caseiro que o Billi J. havia feito em casa para um trabalho da faculdade. O Billi J. não entendia como seu irmão o havia achado. Seu irmão, muito menos. Disse que havia agido por instinto. Billi J. não sabia quanto tempo se passara desde que resolveu se afastar de tudo para poder esquecer... pois é, só havia se dado conta agora de que conseguira esquecer Renata e Amanda. Não havia sido tão ruim a viagem e as horas e horas de angústia por uma forte possibilidade de morte.

(continua...)

Um comentário:

Vini Manfio disse...

CAMPANHA: UM COMENTÁRIO POR POST!

bem louco