terça-feira, 12 de agosto de 2008

Da série: Histórias do Bandiolo - Vamos logo para o inferno

Há pessoas que não crêem que exista um céu ou um inferno, mas mesmo assim, não deixam de pronunciar essa palavras quando querem dizer algo bom ou ruim. E pode até ser mesmo questão de acreditar em céu(espiritual) e inferno(que não seja o astral), porque ninguém sabe mesmo se existe, mas não devemos negar ou taxar de idiota alguém que fale nisso. Até porque, todos já passamos por uma situação em que tivemos a oportunidade de dizer céu para algo bom e inferno para algo ruim.

Tirando toda a porcaria escrita acima, escrevo hoje que certo dia, nasceu um guri. Como qualquer outro dia. Só que naquele dia, o céu se escureceu, São Pedro despejou tudo quanto era água que tinha lá em cima e o diabo(outra questão de acreditar ou não) fez com que os vulcões entrassem em erupção para poder libertar seus caçadores de espírito, que de alguma maneira, teriam que achar esse guri que nascera naquele dia. Ele nasceu logo no primeiro minuto do dia, e até o final do dia, ele se manteve como o único guri a nascer naquele dia. Em todo o planeta.

Se não fosse uma coincidência somente provada anos após o seu nascimento, tudo estaria certo. Mas algo que veio dos céus impediu que outras criaturas nascessem naquele dia, pois teriam o mesmo destino que esse guri. Guri que desde que aprendeu a falar, só reclamava. Queria comer. Queria brincar. Queria chorar. Queria mamar, mesmo que já tivesse 7 anos de idade. Queria comer denovo. Queria dar um chute na vizinha gorda. Queria por que queria tudo. E sua mãe jamais negou nada, pois havia algo nos olhos dele que a impedia de o proibir.

Jamais nasceu um fio de cabelo ou um pêlo no corpo daquele guri. Ele era tão liso quanto caloteiro. Nem espinhas, nem sardas, nem pintas, nada. Nada além do básico nascia naquele corpo. Nunca se importou com isso, com as gozações, com qualquer coisa que fosse, pois sempre julgou-se superior. Quem parece não ter nada, tem muito. E acreditava cegamente nisso. E quanto aos colegas que o taxavam de banana nanica descascada, de alguma maneira ele fazia-os sofrer. Com golpes inacreditáveis, surrava um a um, ou humilhava, como na vez em que fez um aluno comer dois pacotes de bolacha maria sozinho e sem parar.

Ele foi crescendo, pensando, imaginando que um dia mudaria o mundo. Seria lei que todos fossem carecas em sua homenagem. Havia se tornado diabólico. Mas no momento em que viu aquele tênis da Dal Ponte, novo, azul, preto e branco, com um cadarço diferente e com forrado duplo, sola hiper-duradoura, quis comprá-lo. Mas não tinha dinheiro. Pediu para sua família, e eles também não tinham. E não havia nada na casa que, se vendido, pagasse o tênis. Chutou tudo e foi embora. Entrou na igreja, pela primeira vez em sua vida, e rezou de olhos fechados, mesmo sem saber como, exigindo que Deus lhe desse aquele tênis.

Abriu os olhos, e ao não ver o tênis em sua frente, roubou o dinheiro que as velhinhas colocavam na caixinha do altar. Mas aqueles míseros reais não eram suficientes. Começou a roubar, mas não conseguia juntar o dinheiro. Decidiu então vender sua alma. Por ser um ser superior a todos os outros viventes do planeta, sua alma valeria muito, pelo menos o suficiente para pagar o tênis. Só que não sabia como vendê-la. Um dos enviados do diabo que perambulava até então, o encontrou, mas ele não se importou. Deu uma surra(não me perguntem como) e ainda chamou o enviado do diabo de incompetente.

Seguindo o seu caminho, entrou em uma casa de penhores, onde foi atendido por um velhinho. Este, pagou pela sua alma exatamente o preço que faltava para o guri comprar o tênis. Ele assinou um papel escrito "Minha alma" e se foi com o dinheiro. Comprou o tênis. E agora queria também uma camisa do Chicago Bulls, que combinaria com aquele tênis. Sem alma, o que venderia? Nem cabelo tinha. Usava dentadura pois dentes também não haviam nascido em sua boca. Não tinha nada. Sua família tinha menos que ele. E agora nem alma tinha.

Viveu seus últimos e poucos dias de maneira melancólica, escutando Chitãozinho e Xororó e chupando as mangas que conseguia roubar do, também careca, dono da barraquinha de mangas. Seu tênis era o melhor já produzido. Ele era o melhor ser já produzido. Mas não tinha mais alma. Suas palavras não faziam mais sentido. Seus pensamentos não faziam mais sentido.

Decidiu se entregar... foi até o hospital e serviu de cobaia para várias experiências, até que ganhou dinheiro e comprou sua alma novamente.

Morreu dois dias depois, pois aquela alma que comprara, era uma cópia da sua que havia sido... falsificada no Paraguai.

E só...

Um comentário:

Vini Manfio disse...

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essa merecia um comentário