sábado, 7 de junho de 2008

Histórias do Bandiolo - O Eu e o Nós - (enfim, voltei, bom, pelo menos por enquanto) - final

As pessoas lembravam do Nós porque ele era participativo. Ajudava. Trabalhava. Brigava por algo melhor. Mas as pessoas também lembravam do Eu, até porque, quem não lembrasse do Eu, era um tapado ignorante, um colono dos arredor de Castelinho(distrito de Frederico Westphalen, minha cidade). E por incrível que pareça, numa pesquisa para saber quem era mais lembrado, o Eu ganhou por quase unanimidade, só um voto não foi para ele. O seu próprio voto.

O Eu era tão idiota que decidiu votar no Nós, porque tinha a certeza que a sua persuasão e a sua ambição fariam as pessoas votarem nele e não no muito útil Nós. E o Nós, humilde que só, votou no Eu porque não conseguia pensar que alguém lembrasse dele, até porque, por vezes, imaginou que se não fosse quem era, não se lembraria de alguém com o nome de Nós. Que nome comprido. Quase todos na cidade se chamavam Eu. Era o Eu da Silva, o Eu de Souza, o Eu Goulart, o Eu Robertson, o Eu Joe, enfim, todos tinham um sobrenome, menos o Eu dessa história. Porque onde já se viu alguém como Eu ter mais do que um nome? Ridículo, coisa de perdedor.

E no ritmo do Eu, a cidade foi se destruindo. Porque todos copiavam o Eu e o Nós não agüentou, e um dia desistiu. Entregou os pontos e virou como o Eu também. O Nós passou a se chamar Eu de ex-Nós. A cidade não tinha mais alguém que trabalhasse. Alguém que se dedicasse. As velhinhas não atravessavam mais as ruas. Os carros não saíam mais no inverno por causa da neve. As ruas eram mais sujas do que aviário. E tudo só ia piorando.

Alguém um dia chegou para o grande Eu e perguntou: "Não havia alguém que limpava toda essa merda que hoje emporca a nossa, desculpa, a tua cidade?, Não consigo me lembrar quem era...". O Eu se deu por conta de que a sua arrogância, o seu mau exemplo e a sua superficialidade haviam acabado com o lugar. Mas agora era tarde. Lembrou-se então daquele idiota que havia votado nele na campanha da popularidade. Procurou-o e achou-o. Tentou convencê-lo a virar apenas Nós novamente, esquecer o seu mau exemplo e fazer a cidade voltar a ser o que era. Deixou todo o seu ego de lado, a sua arrogância, desceu do palanque feito de gilete(quem nunca ouviu que alguém que se acha tá discursando em cima de uma gilete, ou algo do tipo...?) e se humilhou para tentar recuperar a cidade que já não existia, pois tudo era lixo, entroncamento e desrespeito.

Só que o Nós, digo, o Eu de ex-Nós, fez o seu ego falar mais alto e respondeu: "Eu é que não vou mudar para melhorar a cidade". Eu então indagou: "Mas nós precisamos de você!". O Eu de ex-Nós então terminou a conversa com um: "O Nós, agora é Eu também...".


*qualquer semelhança com a realidade, não é mera coincidência
**inspirado em auto-conversas e auto-discussões efetuadas durante os meus poucos momentos de descanso.
***não procurem porque não há asteriscos dentro do texto, pelo menos não que eu me lembre.

Um comentário:

Vini Manfio disse...

CAMPANHA: UM COMENTÁRIO POR POST!

essa história ficou muito legal(2*)


*em referência ao comentário na primeira parte