sexta-feira, 16 de maio de 2008

É tão frio quanto pisar no chão, descalço, no inverno

Pés quentes, recém saídos da cama, igualmente quente. Os dias tem sido frios, as noites mais ainda. Não muito frio, mas o suficiente para derrubar guerreiros com a mais simplória das doenças. Gripe é diferente de resfriado, que não é só nariz fungando nem só tosse. Mas os meus pés tocam o chão frio.

E gela. E esfria. Os pés, o corpo, a cabeça. A garganta dói. Tossir já não é mais novidade. Tossir, guspir, jogar pra fora, cantou algum dia Humberto Gessinger. E isso não passa de uma renovação de inverno, que é uma coisa tão tosca quanto promessas de ano novo. Porque é bobagem achar que tossindo tu melhoras, assim como é bobagem achar que não tossindo tu melhoras. O fazer e o não fazer levam ao mesmo caminho, ou melhor, não levam, porque a gripe só desaparece algum tempo depois, porque na verdade, tem que desaparecer mesmo.

E as coisas passam. As pessoas passam por nossas vidas. E são tantas, todos os dias. É difícil lembrar de 5% que seja delas. São tantas que passam por nós. Na rua, na escola, na frente da nossa casa, no consultório do dentista. São tantas e em tantos diferentes lugares. Não há como lembrar.

Mas lembramos sim, daquelas que sabemos o nome, ou não, lembramos de alguém apenas por um rosto, um gesto, um comentário. Lembramos porque há um motivo para lembrar, ou para esquecer. Lembramos muitas vezes do que fizemos de errado há anos atrás, mas não lembramos daqueles que nos ajudaram a superar um problema. Não lembramos de como aquela tonga daquela atendente do supermercado nos tratou. Ela era tonga, mas gente boa. Porque será que não lembro o nome dela, mesmo lembrando que várias foram as vezes em que olhei o crachá, por achar o seu nome esquisito.

Eu não lembro de muita coisa. Não lembro nem o que almocei ou fiz ontem à tarde. Ah, agora lembrei o que eu fiz, mas não me recordo mesmo o que almocei. E o que importa também. Talvez nem esteja mais no meu corpo o que eu comi. Foi tão passageiro e tão insignificante que não me faz diferença lembrar. Mas o que me fez mal em um final de ano, jamais esquecerei. Tomar iogurte depois do bife, algo horrível.

Assim como é muito mais fácil lembrar do cachorro que te mordeu quando tu chegastes na casa do teu amigo. Mas tu não te lembras daquele cachorro que latiu mas depois foi lamber o teu pé e ainda correu atrás de um gato idiota no teu lugar. E como é fácil lembrar do ruim e esquecer o bom.

Como é fácil dizer oi para um desconhecido, bom dia para um professor, e sequer cumprimentar seu pai. Como é fácil. É humano fazer isso. É humano ser mais gentil com o que não se conhece, com o que não se tem. Com o que se pode ter algum dia. Ou mesmo que não haja possibilidade para tal, deixar uma boa impressão é o que conta.

Como as pessoas são ignorantes. Vivemos em um mundo triste, desigual, preconceituoso e superficial, porque somos ignorantes. Sejam lembranças ou cumprimentos. Precauções ou certezas. Somos ignorantes porque valorizamos o que queremos ter e não o que temos. Somos ignorantes porque deixamos tantas coisas passarem. Por medo ou falta de coragem. Oportunidades únicas. Somos tão aficcionados por coisas sem valor. Pelo menos sem valor para nós. O cartão de visita é mais importante que o sofá da sala. Ridículo. Mundo superficial.

"Traga, a sua alegria, inunde minha vida, a sua beleza é, bem-vinda..."

Que eu possa um dia abandonar completamente esses maus costumes, que tanto me fazem perder tempo.

Um comentário:

Vini Manfio disse...

CAMPANHA: UM COMENTÁRIO POR POST!

sempre complicado

são tantos erros para tão poucas soluções...