terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Histórias de uma vida não vivida(2)

*O que alguém já viveu, em outra década, em outro século. O que alguém vai viver, hoje ou amanhã. Quem ou quando são perguntas cujas respostas são tão enigmáticas quanto a origem de tudo o que será escrito. Mas toda mentira parte de algo verdadeiro... ou não. É apenas mais uma história, sem moral, sem intenção, sem pregação. Apenas mais uma história...

Ele tinha uma das histórias mais comoventes que alguém já ouvira. Aliás, não era mais comovente porque ele mesmo não deixou que fosse. Mesmo tendo, no dia em que completou 11 anos, perdido seus pais em um acidente de carro(comprovada a culpa da fabricante do veículo, que pagou uma indenização milionária, mesmo que as perdas tenham sido irreparáveis), nunca se fez de coitadinho.

Nem todos que o conheciam sabiam disso. Morava com seus avós. Ajudava-os nas tarefas. Sim, pois eles viviam no interior da cidade. Plantavam milho, criavam vacas para produção de leite. Árvores frutíferas nunca faltaram. Aprendeu assim a gostar do que é simples. Do básico.

Sempre teve poucos amigos. Talvez a sua melhor amiga fosse mesmo a sua gaita, também ganha no dia do seu aniversário de 11 anos. O trágico dia.

Decidiu, depois de muito choro, de muito sofrimento e de muita tristeza, que viveria para fazer valer o esforço que seus pais tinham feito por ele. Por terem ensinado-o a se cuidar, a respeitar os outros e amar tudo aquilo que lhe fazia bem.

Exemplo de superação. Freqüentava a igreja toda a semana. Geralmente para tocar gaita na missa do domingo. As pessoas gostam dele. Do jeito simples e educado dele, mesmo que ele não fosse de muitos sorrisos, de muitas piadas, de muitas palavras.

Tudo para ele estava bem. Estava certo. Porém, seu mundo desabou, mais uma vez, quando descobriu que as pessoas não o queriam bem por quem ele era, mas sim, por terem pena dele. Porque afinal ele era um pobre coitado que havia perdido os pais em um acidente de carro. Nem todos os que o conheciam, que tinham a mesma idade que a sua, sabiam, mas os mais velhos sabiam sim. Aquele acidente foi manchete nacional.

Nunca conseguiu algo usufruindo da sua tristeza, da sua maior tristeza. Sequer algum dia tentou se fazer de fraco para conseguir algo. Porque afinal, ele era muito mais forte do que aquela gente que só tinha pena dele. Malditos. "Eu tenho pena de vocês" começou a resmungar, sozinho, enquanto voltava para casa.

Ele achou que já havia perdido muito tempo lá. Sentiria muita falta de seus amigos, de sua família, mas não poderia viver mais em uma sociedade que tinha pena dele. Nunca quis que tivessem pena, nunca quis ser o centro das atenções, nunca quis nada de alguém. Sempre lutou para conseguir. E descobriu que ainda assim era julgado como "coitadinho". Malditos.

Pegou sua gaita, se despediu de seus avós e partiu. Sozinho.

Talvez porque a vida o quisesse sozinho. Talvez porque o mundo o quisesse ver sozinho. Talvez porque Deus quisesse que ele ficasse sozinho por um tempo. Talvez porque ele precisasse ficar sozinho.

Mesmo sendo um grande gaiteiro, não virou músico. A música era sua arte, seu prazer pessoal, onde ele conseguia aliviar todas as suas mágoas.

Ele mudou de cidade. Permaneceu algum tempo sozinho, mas pelo menos agora, ninguém o conhecia, ninguém sabia da sua história. Não seria mais alvo de pena.

Sorriu e começou a tocar, sozinho, sua gaita.

2 comentários:

Camilla disse...

Uma história de superação mesmo...

Beijos

Camila disse...

nossa tadinhuu :(
gosteei da personalidade delee e as pessoas muitas vezes agem assim por axarem q a pessoa q tem pouco tbm sofre!! coisa errada de se fazer neh.

bejoos