quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Histórias de uma vida não vivida(1)

*Do subúrbio sofrível da minha mente, sairão o que não foi, não é e não será visto, ouvido, sentido, vivido. O resto não passa do que sobrar de tudo o que é visto, ouvido, sentido, vivido. O tudo e o nada não existirão plenamente aqui.

O telefone tocou. Levantei ligeiramente do sofá. A televisão continua sendo a pior porcaria existente, mas como não posso usar o computador deitado no sofá, só me resta a televisão. Droga, esqueci do telefone. Atendo e... é ela. Meu antigo amor. Aquela que me fez pensar que as estrelas eram uma coisa linda e que as flores podem ser sim uma fonte de inspiração. E agora ela estava na rodoviária, esperando que eu fosse buscá-la. Estou tão cansado, com tantos problemas da faculdade para resolver que não me lembrei que ela chegava hoje.

Nem me arrumei. Não precisava mais impressioná-la, pois agora somos só amigos. Então apenas coloquei o chinelo, que estava embaixo da cama, e saí. Claro, fechei as portas do apartamento antes. Estava um calorão na rua. Precisei pegar dois ônibus para chegar até a rodoviária, mas gostaria de voltar a pé com ela, para podermos conversar. Faz tempo que não nos falamos. Faz tempo que não nos vemos.

Aliás, fazia. Pois a vejo na entrada da rodoviária. Com muito esforço conseguiu carregar sua gigantesca mala até lá. Sim, me contou depois que recebera ajuda. E pudera, a mala era mais pesada do que ela mesma. Mas saindo da mala e falando do que realmente interessa, nada nela mudou. O olhar é o mesmo, porque aqueles lindos olhos verdes, felizmente, são os mesmos. O sorriso alegre. O jeito doce de pronunciar cada palavra. A espontaneidade. Entendo cada vez mais os motivos que levaram o meu coração a se apaixonar por aquela pessoa. Passado sim, mas um passado de boas lembranças, infelizmente, mais imaginárias do que reais.

Mas era passado aquele amor... de namorado. Aquela paixão que te faz acreditar que a vida vale a pena ser vivida. Mas era passado. Ou melhor, é passado. Não sinto mais o frio na barriga, não me inspiro mais da mesma maneira quando estou com ela ou penso nela. O fato é que voltamos, a pé, conversando. 25 minutos de caminhada, caminho que eu havia percorrido em 6 minutos de ônibus. Mas como valeu a pena aqueles 25 minutos. Conversamos sobre tudo o que nunca havíamos conversado. Bobagens não faltaram.

Entramos no meu apartamento, onde ela ficaria hospedada para fazer o vestibular de inverno da universidade federal da cidade. Como era bom ter alguém como ela por perto. Uma semana com quem conversar. Com quem conviver. Com quem viver. Mesmo que fosse só amizade. Uma semana que seria bem legal.

Só que o telefone tocou logo que entramos no meu apartamento. Agora sim a minha barriga avisou. A minha expressão de alegria boba e singela mudou. Gelei. Congelei. Esfriei. Transformei. Era ela. O meu... a minha paixão. Aquela que conseguia o que nenhuma pessoa mais conseguia. Nem mesmo aquela que estava no meu lado no momento conseguiu algum dia. Paixão talvez seja pouco. Mas pela situação já representa bem. Não a vejo há dois meses. Mas a minha mente, quando não concentrada em alguma ação ou aula de estrutura física, só consegue pensar nela. Melação de apaixonado dirão alguns. Mas não. Era verdade.

Falava com ela todos os dias pela internet. Quando ligava para ela, minha mão tremia ao telefone, meus pés gelavam, minha barriga era tomada pelas famosas "borboletas no estômago". Já havia sentido tal sensação, mas não tinha sido tão forte assim. Mas sem saber, ela conseguia fazer aquilo. Minha paixão, aquela por quem sairia correndo da faculdade se me pedisse um abraço de conforto, de carinho. A única.

Ela estava chegando também. E eu, mais uma vez, nem me dei conta do que estava por acontecer. Deixei que acontecesse porque... eu não sei. Não percebi que as duas chegariam no mesmo dia e quase, pelo menos quase, no mesmo horário. Mas chegaram. Disse à minha amiga que teria que sair para buscar uma pessoa na rodoviária. Ela disse que iria junto comigo. E foi.
Eu queria passar um tempo com a minha amiga. Conversaríamos bastante. Coisa de amigo mesmo. Mas mais do que isso, queria passar um tempo com a minha paixão. Quase namorada. Mas quase mesmo. Se ela passasse no vestibular de inverno, ficaria morando por lá e a nossa relação seria algo concreto mesmo. Não que a distância impessa algo, mas dificulta, pelo menos no começo.

Trouxe-a para meu apartamento. Ela também ficaria lá. As duas, e eu. A minha cabeça não sabia o que fazer. O meu coração não sabia o que sentir. Eu era todo amor, literalmente, mas não sabia para onde direcionar tudo aquilo que estava sentindo. Chegava a ser cômico. As duas, pelo menos aparentemente, entenderam a situação, a minha falta de memória e, por me conhecerem, sabiam que eu estava falando a verdade. E também, mesmo que eu lembrasse que ambas iriam se hospedar no meu apartamento, jamais diria não. Até porque, as duas significam muito para mim.

Uma situação cômica. Talvez nem tanto para quem fica sabendo disso agora, mas muito para quem viveu(?) isso. As únicas duas pessoas que conseguiram desfazer a minha barreira sentimental, criada por decepções passadas, estavam no mesmo lugar. Uma de cada lado. Rindo. Riso que eu não conseguia liberar pois não sabia o que pensar. O que fazer. O que dizer. Eu não sabia mais de nada.

E sabe do que mais? Eu nem queria nada mesmo. Eu só peguei uma jarra d'água, 3 copos, enchi os três e fui com as duas, uma de cada lado, assistir a porcaria do filme da tarde. Com um calor daqueles e nós 3, com propostas, desejos e sentimentos diferentes, juntos no mesmo sofá.
Até porque, só havia um sofá no meu apartamento. Sabe como é... começo de vida em outra cidade, as coisas não estão muito concretas e por aí vai.

Um comentário:

Vini Manfio disse...

acho que por ser muito grande o ignorante povo brasileiro não quis ler tudo, mas felizmente, não fingiram que leram