terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Histórias de uma vida não vivida (5)

Ultrage à rigor - Ciúmes

*Não há o que achar, até por esse motivo, não procuro nada entre meus neurônios. Não há nada aqui, nem ali, nem lá, muito menos acolá. Ilusão, miragem, vertigem, realidade e sinceridade. A vida dos que nunca viveram, a morte dos que sequer nasceram, o piso no fundo do poço, o sol no começo, e não no fim, do túnel e o coração no meio do peito. A morte está próxima porque há vida. A vida está distante de ser vivida pois o medo do fim, e do início, impedem que qualquer verbo substitua o existir.

Estavam sentados em cadeiras, na cozinha do salão paroquial, conversando. Sentados em cadeiras, dispostos de tal maneira que formaram um círculo. Conversa vai, conversa vem, entrou correndo na cozinha uma guria. Loira. Estatura média. Pele clara, mas não muito. Olhos azuis, daqueles que fazem um homem se imaginar na praia, à beira do mar. Ela chamou um dos guris que estavam sentados no círculo.

Uma das gurias, aquela que seria a futura namorada daquele guri, ficou meio ressabiada, preocupada com aquele chamado. Começou a bater o pé e temeu o pior. Temeu que aquela loira oxigenada(na raiva, todas as loiras são oxigenadas) fosse afastá-la de seu futuro namorado. E a viagem toda começa aqui.

Ela começou a imaginar coisas, principalmente quando ele seguiu a loira, saindo da cozinha e sumindo no meio da multidão que dançava alguma música feita para dançar. Era noite de festa, que para ela tinha acabado quando aquela loirinha adentrou a cozinha correndo e chamando o seu "amadinho". Maldita loirinha. E o simples bater de pés passou a ser acompanhado por um estalar interminável de dedos e subsequente roer de unhas, das mãos, claro.

Vendo tal inquietação, tamanha impaciência, uma das outras gurias integrantes do círculo deixou o seu posto e sentou-se ao lado da guria impaciente(pela falta de nomes, citações que fazem referências especificadoras são necessárias).
 
- Ei, não precisa se preocupar, não vai acontecer nada.

- Como você sabe?

- Conheço ele.

- Eu também, mas isso não me dá certeza alguma.

- Eu te dou certeza então. Por mais que ela possa querer, ele não quer.

- Como você sabe?

- Ele me conta tudo da vida dele.

- Então você já sabe de "nós"?

- Sei.

- Então ele é mentiroso, disse que não iria contar nada.

- Ele não contou.

- Então como você sabe.

- Desde que ele terminou o namoro, no começo do ano, não sorria como tem sorrido ultimamente.

- Isso não quer dizer nada.

- Para qualquer outro não, mas para ele sim.

- Mas então...

- Ele não é qualquer um. Qualquer um mentiria. Pegaria a guria num canto, daria uns amassos e mentiria que nada aconteceu. Talvez até marcasse futuros encontros com a mesma, mas ele não. Percebo que vocês já tem um certo compromisso. Então a tua situação é mais segura ainda. Até porque ele já me disse que não gostaria de tê-la ao lado dele como namorada. Ela não combina com ele mesmo.

- Mas como ele pode ser tão diferente?

- Ele perdeu os pais com 11 anos. Foi criado com os avós, que são filhos de italianos legítimos, que sempre pregaram o "bene e male", ou seja, o "bem e mal", o certo e o errado. Ele sempre distinguiu bem isso. Sempre procurou diferenciar e fazer o bem, evitando o mal. Meio bobo isso mas ele foi criado assim. É o jeito dele, por isso te garanto que ele não vai fazer nada.

Nem o diálogo e a certeza de que nada aconteceria acalmou a guria. Estava se descobrindo ciumenta. E muito ciumenta ainda. Ele seria, mas talvez depois daquilo deixasse de ser seu futuro namorado. Ai, e como ele demorava para voltar. Aqueles poucos minutos pareciam horas, longas e sofridas horas. Nunca imaginou que ficaria daquele jeito. Com aquela impaciência por causa de um guri.

Talvez fossem as palavras dele. As loucuras ou simplesmente o jeito simples, e põe simples naquilo. Mas não era só por isso, mas também por isso. Viu-se louca também, por descobrir que aquilo que sentia não era ciúmes em si, era amor mesmo. Queria-o por perto, embora tivessem combinado fingir que nada acontecia entre eles. Não possuía muitas razões para explicar a sua presença ali, porque só conhecia o seu "amadinho" e outro guri, o namorado daquela que viera confortá-la e tentar acalmá-la.

Quando ele voltou, ela levantou-se, empolgada. Viu que nada acontecera, pois ele mantivera a mesma cara com que havia saído do local. E sim, ele não mentia mesmo. Pelo menos não naquele assunto. Quando percebeu que todos repararam na sua impulsiva atitude de levantar da cadeira, fez de conta que estava com sede e foi até a pia pegar um copo d'água.

Nunca uma água desceu tão bem quanto aquela. Embora não fosse água, mas suco de limão.

3 comentários:

Aline disse...

Pior do que ser ciumenta é não confiar no próprio taco!

Cammy S. disse...

é tanta coisa ..eu ando até com preguiça de pensar na complexidade!

tiagomaçon disse...

Detesto ciumes, não nasci para isso, me irrita, me quebra o clima, a unica coisa boa é trepar depois de uma boa briga de ciumes...
ashahshasa

abrazzz