terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Histórias do Bandiolo - "Ai, como é difícil ser eu..."

Ela, Letícia, era uma guria normal. Tinha um cabelo normal, olhos normais, enfim, aparência normal. E como toda pessoa normal ela fazia coisas normais como ir ao shopping e gastar todo o dinheiro que seu pai ganhou após dias de árduo trabalho, comprar coisas supérfluas, comer apenas porcarias como salgadinhos, hamburgeres e beber coca cola. Ela era mesmo uma pessoa normal. Usava rosa como as pessoas normais usam. Enfim, era o exemplo de normalidade no mundo*.

Ela tinha amigas normais que, como ela, gostavam de maquiagem, de roupas novas(se forem rosas e combinarem, compram imediatamente, sem sequer perguntar o valor)("afinal de contas, meu pai tem que pagar isso mesmo"), de sapatos caros e ridículos, enfim, do bom e do melhor que a superfluosidade lhes permite gostar.

Em uma dessas longas, "cansativas" e, óbvio, inúteis maratonas de compras em um shopping bastante conhecido por esse público supérfluo, ela se deparou com a decisão mais difícil de sua vida. Não, ela não deveria escolher entre suas amigas e sua família, entre seus pai e o dinheiro, entre a vida e a morte sua ou de alguém, entre uma bota linda ou um sapato de bico fino para combinar com a saia preta nova, entre alisar o cabelo ou refazer os cachos. Não. A escolha era mais difícil ainda.

Suas amigas diziam para ela não fazer aquilo. Ela não deveria. Não poderia. Sujaria. Tudo. Sua imagem, reputação, nome e até suas roupas, muito embora soubessem que isso não ia acontecer(aparentemente), pressionavam para que ela não o fizesse. Era a pior decisão de sua vida. No pior dia de sua vida(antes ela havia ido na mais cara manicure da cidade(dentro do shopping) e mandado pintar as unhas de vermelho, mas esqueceu que ela mesma estava vestindo uma mini blusa vermelha e estava com uma saia laranja bem apertada, ou seja, não combinava, ficou com tanta raiva disso que nunca mais comeu bolacha), teria que tomar a decisão mais difícil de sua vida.

Ela não sabia o que fazer. Seu instinto, seu corpo, até sua alma, diziam que sim. Suas amigas, que eram seu segundo cérebro** (se é que ela possuía um embutido na cabeça...), diziam que não, eram totalmente contra aquilo.

Ela, a Letícia, demorou tanto para pensar se ia fazer suas necessidades no banheiro do shopping(que as suas amigas diziam ser imundo mesmo nunca tendo entrado nele) ou não que acabou deixando suas excretas líquidas molharem sua saia apertada.

Sentindo-se idiota, chegou em casa e, ainda molhada, decidiu que mudaria de vida. Colocou um coletor de urina embutido em todas as suas saias, para que aquilo não acontecesse mais.

E seguiu sua vida, como se nada tivesse acontecido. Claro, teve que contratar alguns capangas para dar um fim nas suas amigas(para que essas não espalhassem o seu fiasco), mas nada que fugisse do normal..., porque afinal, ela era apenas uma guria normal com uma vida normal.


*não coloquei minha opinião contra essa normalidade superficial, patética e capitalista pois não era essa a intenção do texto;

**fique bem claro que eu não disse que as amigas tinha cérebro, mas que eram o segundo cérebro da outra, o que, no caso, pode(e deve) ser apenas aparência.

3 comentários:

Anônimo disse...

É tudo tão "normal" hoje em dia que eu não me espanto com mais nada...

*Valeu pelo selinho! Tem pra vc também lá no blog :)
beijoos

Anônimo disse...

Puxa vida! :D
Muito bom o texto. Nada normal! Bem expansivo e com ideias(agora sem acento, rs) já formadas sobre essa tal normalidade, em que é preferível ser maluco.

;)

Jessica Laviere disse...

Hoje em dia tudo foge ao normal,pq o normal pra mim comcerteza pode ser anormal para vc.

Me surpreendi com o final do texto.
Bjos