quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Histórias do Billi J. - um outro monólogo incansável

(o primeiro desabafo do Billi J.)

"Caro amigo Vinícius Manfio. Venho através deste e-mail desabafar um pouco pois sei que no amigo posso confiar. O conheço e tenho a certeza de que terás as palavras certas para, se não me ajudar, me acalmar, pois não consigo mais guardar tanta coisa que acontece na minha vida.

Há algum tempo, depois que terminei meu último relacionamento, venho pensando bastante. Mas não imaginando, pensando mesmo. Tentando achar razões, motivos ou qualquer pingo de sujeira na minha vida, para então entender fatos passados. Não quero e nunca quis buscar explicações para o fim do meu último relacionamento, porque não é esse o caso. Não é isso que me atormenta tanto.

Quase sempre tive apoio da minha família e sempre contei com meus poucos amigos. Poucos não, raros. Sabes que tenho problemas de relacionamento, sou um quase anti-social completo, característica que, não sendo redundante, me faz ser excluído ainda mais pela sociedade, fútil e egoísta que tanto odeio. Mas na minha vida tem acontecido coisas muito toscas, no sentido negativo desse tão útil e qualificado adjetivo.

Sabes quando temos aquela dor de barriga forte, quase uma diarréia. Sabes né?! Então, a minha vida parece todo aquele excremento, toda aquela sujeira, todo aquele conteúdo que traz alívio quando passa a ser visível para nós. Enfim, a minha vida parece uma merda daquelas. Não pelo cheiro, mas pelo conteúdo. Uma porcaria completa.

Nunca fui de reclamar de ser feio, anti-social, usar óculos, não ser um grande esportista e ter ideias, ideais e convicções muito bem definidas, o que me torna um cara quase politicamente correto. Nunca reclamei sequer por ser excluído, afinal de contas, um feio tímido acaba sendo excluído sem dificuldade. Porque afinal, como tu dizes, nada é perfeito(sim, eu sei, só Deus). Meus problemas nunca foram muito fáceis de se resolver, até porque, embora minha família e meus raríssimos amigos tentassem, sempre estive sozinho nessa luta contra o que me impedia de tomar algumas atitudes, conseguir alguns objetivos e desenvolver certas características que acabam por ser implícitas em mim, se é que as tenho mesmo. Talvez só eu pudesse resolver tais problemas, mas não sei, deixa isso pra lá por enquanto.

Eu conseguia administrar isso. Essa minha incapacidade, essa minha incompetência, enfim, todos os meus problemas. Eu ignorava e fingia que nada estava errado e que eu era quem sempre quis ser, tinha o que queria ter e sonhava com o que eu poderia ter e com coisas realmente impossíveis. Nunca sonhei coisas difíceis mas possíveis. Ou eu podia chegar lá ou não. Mas jogar meus problemas embaixo do tapete não ajudou. Aliás, vejo que hoje eu consegui acumulá-los tanto que não consigo sequer diminuir o tamanho deles ou guardar em outro cômodo da "casa". Meus problemas me dominaram e hoje a minha vida é uma merda. E vejo que não é de hoje não.

Até conseguir acabar com um medo que me dominava, perdi muito tempo. Pensei que aquele era o fim de uma medo extremo que tanto me prejudicava. Entretanto me enganei. Meu erro foi achar que poderia resolver tudo conforme o tempo passasse mas acabei fugindo demais e perdendo as melhores oportunidades de ter uma vida legal, diferente, que não fosse a merda que era, que é e que inevitavelmente será.

Estou afastado de tudo o que gosto. De todos que amo. Do que fazia com gosto. Preciso recomeçar, resolvendo meus problemas e criando um mundo realmente meu. Não quero mais ficar escondido em ideias, ideais e convicções que só me levam ao desespero por ser daquele jeito. Minha vida é uma merda. Meu mundo é uma merda. Eu sou uma ameba, pensando bem, sou uma merda mesmo.

Não vou me matar. Não tenho coragem nem pra isso. Quero é recomeçar. Ao invés de esquecer, quero lembrar dos meus problemas. Ao invés de fingir, para mim, que estou certo, quero admitir e gritar que estou errado. Quero é voltar a sentir a vida que possuo. Quero viver, deixando simplesmente de existir.

Estou perdido no meu próprio mundo. Nessa merda de mundo. Meus problemas são inimagináveis. Minhas dores são desumanas. Minhas decepções são incontáveis. Não sei mais o que pensar. Não sei mais o que dizer. Não sei mais o que fazer. Trancado em casa, no escuro, escrevo-lhe por saber que lerás e entenderás meu sofrimento, minha angústia. Se a Renata estivesse aqui, me ouviria. Se meu irmão não fosse uma criança, mentalmente falando, ele me ouviria. Se qualquer pessoa aceitasse que a minha vida é mesmo uma merda, me daria um abraço.

É tanta porcaria que não sei onde começo a limpar. É tanta sujeira que não sei se tenho lixeiras suficientes para armazanar tanta porcaria. Tenho medo de resolver meus problemas, limpar minha cabeça e deixar só as lembranças úteis. Tenho medo pois acho que me julgarei o maior idiota da história. Tenho medo pois no fundo, no fundo mesmo, sei que estou cego, surdo e mudo, então não sei qual é realmente a dimensão dos meus problemas. Acho que eles são muito menores do que parecem, e é com essa esperança que lutarei para colocar um sorriso nesse rosto feio. Colocar uma alegria nesse olhar triste e conseguir ouvir um bom e velho Creedence no rádio.

Ao amigo, um abraço e o agradecimento por estar lendo mais esse meu desabafo.

Ass. Billi J."

2 comentários:

Aline disse...

Billi J. é seu "alter ego" ou um personagem fictício?

Cammy S. disse...

É díficil e o tempo não cura nada rápido.acho que você está certo wem se afastar de tudo que gosta e assim descobrir o quanto tudo aquilo é importante pra você.Ha ser anti-social tem lá os seus por´s viu,as vezes a popularidade enche demais,é bom saber que as pessoas tem outros assusntos além de você e que você pode ter vida pessoal sem intromissões dos outros e estar entre mui=tas pessoas que adorar ficar ao seu redor não te faz ter muitos amigos,eles continuam rarissimos,as vezes quando me vejo arrodiada de tanta gente seja no colégio,na rua ou em qualquer lugar e eu quero ficar sozinha?..nubca posso e então dias como ontem onde uma festa acontece e você está cansado daquela fútilidade e quer ficar em casa por um instante como você mesmo e assim se sentir bem,mas na mente a certeza de que terá que dar explicações a muita gente sobre a sua falta..É bom ter individualismo as vezes e poder parar um pouco pra pensar,afinal todos precisam de momentos a sós!
É particulamente um desabafo meu!