segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Histórias do Bandiolo - Um colono na cidade grande(2)

Aqui, a primeira história do colono Adelino na cidade grande

O Adelino, que vivia numa cidade com 19 João's e 22 José's dentre os seus 290 habitantes, digo, 289 porque o Jacó da pedra amarela morreu de catapora anteontem, teve que ir mais uma vez para a cidade grande. Desgraça do capeta. Aquele maldito pé de porco que me multou aquela vez deve ter me jogado urucubaca mesmo.

Teve que ir então, buscar recursos financeiros num banco pra poder investir em infra-estrutura para aumentar a plantação de milho e de sagu. Foi ele então, novamente, até a capital. De carroça, só que dessa vez sozinho. Vai que um outro marica agarre a minha outra filha. Decidiu evitar ter mais uma boca para alimentar em casa. Afinal, beijou filha minha vai ter que casar. Aliás, não poderia esquecer de comprar mais extrato de soja para sua filha que tinha intolerância à lactose.

Enfim. Chegando na cidade grande, de bodoque em mãos para afastar os xebas e vagabundos desempregados que ofereciam produtos inúteis ou pediam dinheiro sem trabalhar, logo achou o banco, pois a placa era maior do que a bandeira do Rio Grande que ele tinha no quarto.

Amarrou os bois, que puxavam a carroça, numa árvore, deu um pontapé no guaipeca* que queria mijar na roda da carroça, afiou bem o canivete, puxou umas papelada que o cara do bar disse que ele precisava levar e entrou. Chapéu de palha, bota zebu** cheia de barro, camisa xadrez com um buraco nas costas(maldita mulher, não costurou a minha camisa mais bonita) e calça jeans rasgada de tanto usar(ele viu uns caras vestidos com calças assim na primeira vez que estivera na capital e decidiu não mandar colocar remendos). Enfim, típico colono de cu de mundo.

Entrando no banco, não pegou senha e foi direto gritando "cade o dono dessa bosta?". Após muita discussão com as atendentes, aquelas mulheres que ficam para instruir nos caixas eletrônicos e com os seguranças, conseguiu falar com o gerente do banco. Mas para conseguir o empréstimo que queria, teria que dar algo como garantia. E não podia ser sua palavra, nem sua carroça e nem as 55 caixas de extrato de soja que já havia comprado. Então puxou de dentro da calça um saco. Cheio de notas de 100 reais. Mas ele precisava disso e daquilo. Então se irritou com o gerente. "Mas que merda. Eu trabalho o dia inteiro, corto cana, quebro e colho milho, alimento as vaca, tiro leite delas depois, crio galinha, pato e marreco, planto bergamoteira, laranjeira e bananeira e não consigo dinheiro pra poder fazer mais do que isso? Que droga de diabo é isso tchê..."

Ouvindo esse desabafo, o gerente do banco concluiu que o homem precisava de uma ajuda mesmo. Mas qual seria a garantia?

Bom, chegando em casa, contou para a mulher que tinha conseguido o dinheiro e que iam mandar as coisas que ele havia comprado na capital dentro de alguns dias. Explicara bem em quais pedras deveriam fazer as curvas para a esquerda ou para a direita, afinal, morava no cu do mundo. Indagado sobre o que havia dado como garantia para conseguir o dinheiro, ficou calado, como se não precisasse ter dado garantia alguma.

Estranharam mas, o Adelino não teria por que mentir...

Mal sabiam eles que a garantia era... a guria mais nova. A sua linda e prendada Jussara teria que se casar com o gerente se ele não conseguisse pagar toda a dívida...

"Ai se a mulher descobre..."

*cachorro
**bota pra andar no barro, feitas com couro de boi zebu

Um comentário:

Vini Manfio disse...

ficou ruim essa porcaria