sexta-feira, 23 de julho de 2010

Retratos de uma sociedade patética (9)


Depois de muito tempo volto a escrever uma crítica. Hoje sobre algo que me incomoda há muito tempo mas que nas últimas semanas me atingiu de uma maneira violenta e me traz uma raiva impulsiva que há algum tempo não despertava.

Em meio a um imenso rio de fracassos contínuos, que vão seguindo seu rumo dentro da minha história sem me dar qualquer opção de mudar o curso ou ao menos reduzir o seu volume, fico parado, sentado olhando tudo a minha volta. De tantas pessoas que vejo, fazendo parte ou não das redondezas desse rio, ou mesmo da minha vida, algumas das que mais irritam possuem algo que talvez não tenha um nome certo, mas que é uma certeza dentre tantas mentiras tidas como verdade, uma desculpa para tentar justificar um erro antigo.

Você conhece sim alguém que algum dia já disse 'eu canso de tudo muito facilmente'. Cansam da escola, das roupas, do esporte praticado, dos colegas, amigos, do companheiro, das suas vidas. Reclamam quase que diariamente da rotina, da repetição, do rever, das conversas semelhantes, dos mesmo olhares e mesmas maneiras de resposta, da mesma forma de atenção designada, do mesmo coitado que traz consigo um mesmo, porém sempre sincero, sorriso no rosto.

O mundo é o culpado. As pessoas em volta são culpadas. A rotina é culpada. E tudo é desculpa para assumir a responsabilidade, a única e verdadeiramente intransferível culpa por serem a inconstância que acabam sendo. Dizem não saber valorizar, aproveitar ao todo, dando assim outra desculpa para seu fracasso. Sim, porque não venham me dizer que pessoas que cansam rapidamente de outra pessoa, seja amigo ou namorado(a), não são um fracasso. Fracasso ainda pode ser pouco. Uma pessoa que não sabe lidar com a rotina e não consegue transformar cada encontro com alguém que o considera especial em algo diferente a cada dia merece sim o rótulo de fracasso. Não para com o mundo ou mesmo para com as pessoas. É um fracasso para si.

É fácil fugir da responsabilidade própria e deixar-se levar pelo desânimo que a repetição pode trazer. Pode porque não é com todos que esse desânimo surge. Pessoas mentalmente preparadas para criar a cada dia algo novo, ver cada dia como um dia, como é de fato, diferente, tendem a não desanimar com relação a pessoas. Agora, aqueles que julgam-se cansados dos amigos, da família, enfim, das pessoas e da rotina em si, esses buscam em qualquer coisa um bode expiatório para suas lamentações, para seu fracasso, para seus erros.

Falta de valorização para com aqueles que fazem por si alguma coisa. Sim, também. Admitir isso é um grande passo rumo à mudança de atitude, de comportamento, ao crescimento. Ah é, entendo. Crescimento, mudança de atitude, de comportamento, valorização das pessoas, não desanimar com a rotina e todo o resto é bobagem, história de quem não sabe aproveitar a vida, as pessoas, o momento. Coisa de gente careta que só vive na teoria.

Prefiro ser assim do que dar a desculpa de que 'não sei valorizar as coisas pois enjôo muito fácil delas' ou 'estou cansada da rotina, do meu dia-a-dia' ou o simplista 'estou cansado de tudo'. Pelo menos eu não fico sentado esperando que alguém surja na minha vida e mude tudo nela. Na minha vida. Não espero por alguém que não vai chegar. Iludido por uma inexistente possibilidade de mudança radical em um piscar de olhos, ou em uma noite de sono. Sonhando com o também inexistente ser perfeito ou situação ideal que venha, ou venham, a encaixar-se nos tantos espaços vazios que possuo.

Espaços vazios que não são preenchidos pela teimosia em achar que nada serve, que nada presta, que ninguém é bom o suficiente, que o mundo é uma porcaria, que já passou o tempo e o momento de tudo, que nada é o bastante para me agradar, que o tempo é curto para tudo em minha vida e tantas outras desculpas infundadas para não assumir que está em si a falta do que dá sentido a tudo.

Ainda assim eu continuo sendo o idiota da história. O revoltado, o burro. O certinho que sempre se dá mal no fim da história. E o que no fim não aproveita a vida e segue tradições bestas e inúteis, o que nunca muda e sempre...

Sim, eu.

Um comentário:

mara disse...

o teu blogger e mto bommm