quinta-feira, 8 de julho de 2010

O todo e a parte. As cores de uma, de várias lembranças.


A vontade é ir atrás, seja falando ou escrevendo, mesmo que não saísse de onde estou sentado agora. Não ficar parado, esperando o tempo passar para então, quem sabe, fazer o que pode ser feito hoje. Queria agir como agiria há alguns meses, impulsivamente, sem pensar em possíveis consequências negativas. Inconsequente nunca fui, impulsivo sim. E faz-me falta, hoje, essa falta de pensar, de refletir, de ponderar. Faz falta pois a ânsia por ouvir ou por ler está tirando qualquer réstia de concentração que poderia ter essa confusa, mas decidida e espontânea mente. Atenção, espontânea mente, duas palavras. Detalhe bobo ao qual não me apegaria se, sendo o que pudesse ser, tivesse em mente algum advérbio de intensidade motivado por um sopro de contagiante e alegre forma de vi... viver. Seja qual for a ordem das cores, o que elas pintam me faz falta. Poder olhar no fundo dessa pintura, a qual os mais exaltados poetas, e eu algum dia fui um deles, chamariam de oceano,  seria como detalhar um ponto branco em uma parede preta, sem uso da criatividade, apenas por ver, branco no preto, ou azul-esverdeado qualquer. Recomeço a frase para, quem sabe, ser entendido. Poder olhar para aquela pintura que, centímetros ao lado coexiste, seria o maior motivo de agradecimento por, no mínimo, poder abrir os olhos e ver. Os poetas nada sabem. Tampouco eu, ansioso e temerário por um não muito mais completo do que esse. Uma totalidade negativa a qual não quero chegar. Motivo maior de estar, covardemente, parado, esperando pelo contínuo e impiedoso tempo. Tempo. Tempo. Como pode tão pouco tempo ter passado, tão pouco tempo ter visto e ainda assim sentir tanta falta daquele quadro detalhadamente criado. E daquele pequeno pedaço azul-esverdeado, verde-azulado, ou qualquer outro nome que defina outra incrível criação de Deus.

2 comentários:

Gabriela Andrade V disse...

As cores... O que dizer delas sem o leve suspiro carregado pelas lembranças? Porque o céu que agora se observa, não será com as mesmas tonalidades pintado daqui a algumas horas. E aquele que se fora observado, marcara de fato momentos... Momentos estes que às vezes jamais se esvaem da mente.
A ansiedade é somente uma bomba-relógio, uma forma encontrada para depositar toda a adrenalina que não é liberada, é guardada. E espera-se para que essa adrenalina não seja guardada - talvez, que seja realmente de modo impulsivo, vivida...
E como fazê-lo? Concentrar-se no presente, a dádiva que rege o tempo, possa ser uma solução um pouca bonita e até difícil de começar a não mais pensar e pensar em outrora.
Bem, não sei se tudo isso faz sentido, possa ser só mais um devaneio louco... :/
Enfim, gostei bastante do teu texto, mesmo.

Érica Ferro disse...

O começo do texto me fez lembrar disso:

[— Não analisa não.
Era a palavra de ordem, espécie de lema que comandava o destino
dos três, diante do qual nenhum obstáculo se sustinha. Acordo tácito,
compromisso de honra: não analisar, porque do contrário surgiriam
problemas, todos tinham seus problemas: esmiuçando motivos,
prevendo conseqüências, nenhuma atitude seria possível, a vida
perderia a graça.]

(Trecho do livro O Encontro Marcado, Fernando Sabino)