sábado, 3 de julho de 2010

O vazio de viver e só(2)


As portas não são deixadas abertas quando o dono não se encontra, ou pelo menos alguém de sua confiança. Baseado em experiências próprias, concluí algum dia que é necessário um tempo consideravelmente longo, muitos meses ou mesmo alguns anos, para que uma relação de confiança, em alguém para cuidar a casa ou mesmo ouvir uma história, e um sentimento de necessidade pudessem surgir. Necessidade de ver, de ouvir, de estar perto, de contar o que aconteceu com os ovos de ouro da galinha, por aí. É óbvio que hoje, vendo horas agindo como se fossem intermináveis, minutos que não passam e segundos tão lentos quanto um raciocínio em estado de fome, vejo que estava errado. O que algumas pessoas levaram anos, alguém levou semanas. Menos até, pois foram semanas contadas de sete em sete, resumidas e plenas apenas no meio de cada um desses sete, partindo do meio. Chega a ser preocupante tamanha ocupação territorial em tão pouco tempo. Não por não conhecer quem ganha espaço, mas por algum motivo bem terceirizado. Pensamentos que cansam assim como o tempo cansa o relógio até que esse não aguente mais e pare, exausto, sem forças para retomar sua vida cíclica, restrita e conformada. Qual rei mandava abrir sua porta sem conhecer bem quem entrava, ao menos vigiá-lo muito bem para que não ocorresse surpresa, qual rei? Ilógico por não ser eu um rei, por não vigiar bem ou mesmo conhecer quem entra, ganha a minha confiança, o meu respeito e a minha preocupação. Em pouco tempo conseguiu o que muitos em anos ao meu lado não conseguiram. Com um agravante: não havia intenção. Se fosse rei, seria um maldito e estúpido rei, entrando em um colapso nervoso por querer cada vez mais perto esta alma camponesa que, ironicamente, é cercada pela imagem de uma membra da mais importante corte, dentre todos os lugares que algum dia já tiveram um rei. Não tenho pressa em descobrir pois duvido conseguir fazê-lo em um todo tão misterioso quanto a origem e a consequência dessa pessoa que entra sem dizer oi e talvez saia sem sequer se despedir, levando consigo parte do meu tesouro, aquele que daria-lhe hoje, sem hesitar,  se me pedisse.

Um comentário:

Rebeca Postigo disse...

Vini...
A maneira como você coloca seus pontos de vista nos teus textos é fantástica...
Às vezes preciso reler para desvendar o que queres expor...
Sinceramente...
Às vezes fico boiando...
Mas quando consigo compreender um pouquinho, fico admirada...
Amo teus textos...
Sempre fazem brotar em mim questionamentos novos sobre uma porção de coisas...
Obrigada por isso...

Bjs

P.S.: Perdão pelo sumiço...
Ando correndo um bocado...
Não estou tendo tanto tempo como antes...
Mas...
Sempre que puder...
Farei uma visitinha...