segunda-feira, 19 de julho de 2010

O vazio de viver e só(4)


Diante das páginas mais lamentadas de uma história não lamentável apesar de tantas coisas, sinto o desejo da mudança, do recomeço, aquela coisa chamada arrependimento. O "tinha de ser como foi" não ameniza o arrependimento e a vontade de reescrever aquelas páginas. Rabiscos do rascunho que se tornaram parte da história sem serem passados a limpo, sem terem uma revisão, uma certeza. Certeza inexistente e que hoje diferença não faz em lugar algum. São muitas negativas insinuadas por palavras distantes do campo de visão, tanto quanto aqueles malditos rabiscos dos quais lembro com vergonha, com desdém. Tanto pior por terem sido motivos da perda de provável única chance, como todas as únicas chances que aparecem, muitas vezes sendo desperdiçadas, no cotidiano, com a diferença de ser no meu e não no de alguém que tampouco se importa com o que é certo, o que é verdadeiro, o que precisa ser. E por importar-me tanto, hoje lamento pelos rabiscos fracassados e também pelo rascunho revisado, com frases escolhidas a dedos modestamente controlados por olhar espontâneo e claro, igualmente fracassado. Duas partes diferentes de um mesmo livro, dois fracassos diferentes de duas escolhas semelhantes. Do erro ao cuidado, do fracasso a atenção e o aprendizado, do lamento ao... lamento. Mudam-se os cuidados, a folha, o lápis, o local onde se senta, a mesa e a inspiração. Uma pena que o fim seja mais uma vez digno de folhas amassadas jogadas no lixo, sem dó nem remorso. E a lamentação pela história que não pode ser escrita acaba sendo uma verdade irreal, que provavelmente nunca será nada além de um pensamento, de uma imaginação.

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