quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Histórias do Bandiolo - Um colono na cidade grande

O sujeito chama-se Adelino, nome feio deveras, mas que o identificava no meio de um número tanto quanto grande de Maria's, João's e José's. Embora a cidade, ou melhor, o cu de mundo onde viviam, não tivesse mais do que 19 João's e 22 José's dentre os seus 290 habitantes.

Após a curta, e desnecessária, apresentação, certa feita o Adelino, gaúcho criado na roça, no meio do mato, cortando cana e debulhando milho, foi para a capital acompanhar sua filha numa consulta médica, já que naquele cu de mundo onde moravam nem curandeiro havia.

Chegando lá, de carroça e tudo, cuia com chimarrão quente, água esquentada numa fogueira naquele lixão da entrada da capital, o Adelino se meteu feito bocó nas ruas movimentadas, barulhentas e irritantes da capital. Se o trânsito não fluia, ele dava um jeito. Atirava de bodoque*, pedras nas sinaleiras, todos então partiam e ele não se incomodava mais. Nunca na história da capital um número tão grande de acidentes de carro foi registrado.

Demorou dois dias para achar o consultório do tareco** do médico. Bem que fizera ir três dias antes para poder olhar uns vestidos para sua mulher, uma gaita pro guri e uma foice*** nova e bem afiada para si.

No consultório, descobriu que a filha tinha intolerância à lactose. Mas que doença de gente rica da cidade grande. E agora ele teria que comprar extrato de soja* porque a guria não podia mais beber leite direto da teta da vaca. E nem em copo, nem fervido, nem nada. Mas que porcaria. E naquele cu de mundo encontrar essas coisas é a mesma coisa que pedir que um político corrupto confesse que roubou.

Tinha então que comprar as coisas e encher a carroça de extrato de soja. Cramentua. Só podia ser praga do maldito pé de porco***** que lhe multara na estrada. Mas é um maldito pé de porco fedorento.

Foi até um mercado então. A guria ficou na carroça. Não pediu, gritou que queria duzentos e cinqüenta litros de extrato de soja. Lhe trouxeram uma caixa apenas, lhe cobraram o dobro do preço e lhe mandarm embora. Malditos. De raiva, pagou com nota de R$ 100,00, disse para ficarem com o troco e mijou na porta do mercado, só porque não tinha vontade de fazer algo mais consistente naquele momento.

Ninguém entendeu nada.

Ele então voltou com o extrato de soja da guria, jogou na carroça e viu que ela tava se agarrando com um marica que usava brinco e cabelo espetado. "Com a minha filha não seu marica desgraçado". E puxou o canivete, cortou fora o pedaço da orelha que continha o brinco, o pedaço do nariz que continha o piercing e deu uma tosada nos cabelo de espeto do marica, digo, do cara lá.

Esse, sem saber o que dizer, foi jogado para cima da carroça e levado para o cu de mundo onde viviam...

"Afinal de contas, beijou a guria, vai ter que casar na marra".


*estilingue
**semelhante à... arcaide, baúco, tongo. Adjetivo usado para qualificar sem qualificar alguém
***espécie de faca em formato de meia lua, usada para cortar cana
****leite é só de teta, como diria Válter Negão, grande mestre
*****pé de porco = policial

5 comentários:

Unknown disse...

Os blogs de gremistas são sempre melhores o/ HUSHAUHSUAUSHA! tá nos recomendados!

Anônimo disse...

Hahaha...

Muito boa. Tem até um ar das histórias mirabolantes do Iotti.

Beijocas
www.lizziepohlmann.com

Mandy disse...

hahahaha

Gosto das histórias daki!!!

^^

BjO.

DW disse...

Uma boa história, para um mal dia.
Beeeijos & Bom finde :*

Bibiana Friderichs disse...

hehehehe.. vou divulgar por esses lados do "cú do mundo"... hehehehe

Abraços!