segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Histórias de uma vida não vivida(4)

*Do esgoto mental que afeta meus pensamentos, minhas idéias e prejudica minha vida, surgem palavras que juntas formam histórias, vividas e ignoradas, ou não vividas e lembradas. Ninguém sabe, ninguém viu. Ou alguém sabe, viu, presenciou, viveu, sorriu ou sofreu, contou e falou a verdade ou mentiu. Não há provas de que seja verdade. Entretanto, ninguém poderá provar que é mentira...

Olhou para os lados, não viu ninguém por perto. Era agora. Era a sua hora. Não entraria para a história por causa disso, como o Getúlio e alguns outros entraram. Não. Nem para a sua história entraria. Porque ele não tinha história. E se tinha, queria mais era esquecer.

Sentiu-se o último dos homens. O pior dos idiotas. O mais coitado dos bobos. O mais horrível dos feios. O mais desprezado dos renegados. O último. O pior. O ruim em pessoa. Seu nome não entraria para o dicionário como sinônimo de ruindade, pois nem para isso servia. Na sua visão, é claro.

Então abandonou esse mundo. Abandonou tudo o que tinha. Tudo o que teve. Tudo o que poderia ter. Abandonou esse mundo fisicamente. Se matou. Não se sabe como. Nem ele sabia como iria se matar. Mas o fez. E o fez com tristeza.

Não era depressivo, não tinha problemas mentais. Era alegre até demais e mais inteligente que qualquer outro com quem conversava. Passara em primeiro lugar em um dos vestibulares mais concorridos de medicina. De medicina ainda. Mas havia desistido de tudo.

Não por um amor não correspondido, mas por mais um amor não correspondido. Nunca fora aceito pelo seu jeito diferente, porém muito admirado, de ser. Mas nada do que pudesse ter ouvido teria adiantado.

Deixou um bilhete colado na sua barriga, onde saberia que leriam. Dizia:

"Deixo estas últimas palavras à todos que amo e que me amam. Não tive depressão nem virei emo. Apenas desisti. Da vida. Por achar que não conseguiria mais ter forças para lutar pelo que eu queria e contra o que eu não queria. Desisti muito mais do mundo do que da minha própria vida, vida, que não consegui aproveitar. Peço perdão pelo sofrimento que terão, mas eu desisti de tentar viver em um mundo onde pessoas como eu são poucas, e acabam se entregando facilmente aos erros da maioria. Não agüentei mais ver as minhas verdades sendo superadas por mentiras, a minha sinceridade ser superada pela hipocrisia alheia, o meu amor ser superado pelo simples ego de outrém. Sou covarde por desistir agora, depois de tanto lutar. Mas não agüentei mais. Vocês não me perdoarão, infelizmente. Nem Deus me perdoará. Mas eu precisava. Alguém teria que fazer essa idiotice um dia. Que o mundo vá para o inferno junto comigo..."

Ao ver isso, sua mãe entendeu porque seu filho não comia bergamota há dois meses...


*a ordem dessas histórias é uma coisa tosca, uma engraçada e uma com apelo emocional. Ou não.

5 comentários:

Camilla disse...

Vini, vc posta muito...

Beijos

Cammy S. disse...

Bom apelo emocional ou não me fez lÊ a hisoria toda!
gosteii e que fim,tem sentido,mas eu adoroo viver!

Anônimo disse...

Tem um Meme esperando por você na Fábrica! =)
Espero que goste.
Beijos.

Sra.S.A.

Wellington Vinnícius disse...

É, vc sabe construir textos com peso. Notei isso porque seus textos têm muitas frases curtas, e eu costumo fazer isso também. A despeito do clima bem negativo da crônica, achei legal a tua redação (= teu jeito de escrever). Fica o meu convite para quem quiser ler e postar comentários em meus blogs também. É só clicar em meu nome. Valeu.

Camila disse...

Quase chorei lendo. :O
Bem escrito!