domingo, 1 de março de 2009

Histórias do Billi J. - eu preciso de terapia... tragam o meu psiquiatra

-Doutor...

-Diga Billi.

-Preciso de ajuda.

-Qual o problema guri?

-O problema é que eu não sei mais quem sou eu, embora tenha muitas teorias, ideias, convicções e fatos que me digam isso. Mas nada disso é o suficiente para mim.

-Bom...

-E o que eu posso fazer para me redescobrir?

-Assim Billi...

-Doutor, não consigo mais transformar o mundo em meu mundo.

-Sim Billi...

-Eu não consigo mais ignorar meus problemas.

-Billi, você deve...

-Eu sempre amei a Renata mas agora não sei mais o que sinto por ela porque faz tempo que não vejo ela...

-Isso é...

-O que eu faço doutor?

-Primeiro...

-Estou me sentindo muito mal...

-Cale-se e me deixe falar.

-Tá, desculpa.

-Bom, você, pelo que percebi, está ansioso, deprimido e extremamente impulsivo.

-Nunca fui assim.

-Mais uma interrupção e eu te jogo janela abaixo. E olha que estamos no 18° andar...

-...

-Certo?

-Posso falar?

-Agora sim.

-Certo, não interrompo mais.

-Então, já desabafou com alguém sobre isso? Desabafar é bom, faz a pessoa que está deprimida sentir-se melhor...

-Bom...

-Sim ou não?

-Sim.
 
-Bom, muito bom.

-...

-E o que tu achas que pode te ajudar a melhorar, um novo amor, uma nova paixão, uma viagem, um amigo louco?

-Se eu soubesse, não estaria aqui.

-Muito bom, vejo que o seu senso crítico está funcionando direito.

(nesse momento o Billi J. percebe que o seu terapeuta é um mala e...)

-É...

-Olha a janela...

-...

-Acredito que você deva expandir suas ideias para acabar com essa depressividade toda, esse desespero todo, essa melosidade toda.

-Ã...

-Cale-se.(o psiquiatra não deixou o Billi J. sequer completar seu ãhn). Você sofre de um distúrbio compulsivo buscador de respostas. É uma teoria que eu criei há alguns dias. Ao meu ver, pessoas que sofrem isso, dentre as quais você, buscam respostas que estão em si mesmos, mas não querem ver pois, por estarem deprimidos, julgam-se infeiores aos seus problemas, isso os faz sentir-se acanhados e trazem a impulsividade compulsiva na busca por respostas e aquela ansiedade extrema e desnecessária.

-...

-Pode falar agora.

-O que?

-O que acha da minha teoria e se acha que ela se encaixa no teu caso. Imagino que dirá que não, mas não custa perguntar.

-Acho que é uma viagem sua doutor.

-Viagem? Paris, Roma?

-Não, mais perto.

-Bogotá? Santiago?

-Quase lá.

-Pindamonhangaba? Pelotas?

-Por um triz.

-Só pode que é Porto Alegre.

-Um pouco mais específico.

-Avenida Ipiranga?

-Mais pra esquerda.

-Consultório do doutor Johansson?

-Isso aí doutor, acertou.

-Tá, mas o que isso tem a ver?

-Não sei, o senhor que começou a citar lugares.

-Ãhn?

(Billi J. havia envolvido o psiquiatra com sua loucura)

-É, o senhor que começou com uma teoria idiota que não se adéqua a mim.

-Não? Como sabe?

-Eu me conheço muito melhor do que o senhor. Sei que não sofro de distúrbio compulsivo e impulsivo algum. Sei que o meu problema é mental. Estou beirando a insanidade, mas vejo que meu amigo é muito mais apto a me ajudar do que o senhor, embora ele não tenha um diploma de psiquiatra na parede.

-Diploma? Aonde que não vejo?

-Puta merda, o senhor não tem diploma nenhum. Como pude parar aqui? O senhor é um picareta, matão, idiota, me enganou se fazendo passar por psiquiatra.

-Ei...

-Agora o senho é que cale a boca. Eu vou dizer o que o senhor é...

-Ei...

-O senhor é um enganador, vou lhe denunciar para a polícia...

-Mas espere.

-O que?

-Esqueceu-se?

-Do que?

-Eu não sou psiquiatra, o senhor começou a falar comigo porque quis.

-Mas não negou ser doutor quando lhe chamei de doutor...

-Não.

-Então?
 
-Então o que?

-Por que ainda estou falando com você e não lhe joguei da janela do 18° andar, que é onde estamos, por me enganar e desabafar-lhe meus problemas?

-Porque você não pode me jogar do 18° andar.

-Eu sou mais forte do que pensas.

-Não digo por isso.

-Então por que?

-Se me jogar, você cai também. E morreremos juntos.

-Você não tem força para me levar junto.

-Nem preciso.

-Então?

-Então o que?

-Como não precisa de força para me levar junto?

-Esqueceu?

-Do que?

-Que você é eu?!

-É?

-Sim, sou seu eu-lírico.

-Droga.

-O que?

-Meu eu lírico é um idiota.

-Pois é. Dizem que todas as coisas se parecem com seus donos.

-Me chamou de idiota?

-Talvez sim.

-Vou te jogar pela janela.

-Estamos deitados embaixo de uma árvore, não há janelas por perto.

-Desgraçado, vai ver quando estivermos no 18 andar de um prédio...

4 comentários:

Julia Wartha disse...

hahaha!

ADOREI!

Bruna Brasil disse...

Muuito bom :D Gostei!

Die Flux disse...

haishaishaishaishaua
Boa... xD

Aline Bridget disse...

Parabéns! Adorei! =)