sexta-feira, 20 de maio de 2011

Pedaços de um pensamento (18)


Perdido em meio à minha incompetência verbal e inconstância emocional, tenho no silêncio dessa, e de tantas outras madrugadas, um momento para... para o que mesmo? Ah sim, reflexão, pensamento, lembrança e tudo mais que, no exato agora, não servem de nada, não ajudam a acalmar e muito menos amenizar um lenta, porém progressiva, caminhada rumo ao lugar comum do nada. Um lugar onde quase ninguém assume estar principalmente por não conseguir olhar para longe do próprio umbigo. Crescente desmotivação e insatisfação oriundas da pior das intocáveis tristezas, que é aquela em que as consequências para qualquer atitude, inclusive para a falta de qualquer uma, leva, e isso é inevitável, ao senso comum que diz que 'o importante é estar vivo'. Não desejo para ninguém a satisfação pela simples presença existencial, embora não se possa negar que isso é o suficiente quando não se tem mais um único vestígio de ideal, sonho ou, mais importante, sentimento verdadeiro em si. Acontece que, enquanto escrevo sem pensar por ter a mente longe demais das capitais, como a maior parte de mim, mexo os dedos aleatoriamente tentando achar palavras que possam explicar de uma maneira clara o que está acontecendo. Não que alguém venha a se importar de verdade com mais um problema com tantos condicionais que fica difícil até começar uma lista. Dentre tudo aquilo que seria feito diferente se as coisas fossem fáceis e as ações fossem ideais como no sonho, escolheria, apesar de certa dúvida, não tentar imaginar o que se pensa ou sente em uma vida que não é a minha. 

Em algum momento ter concluído uma verdade que não era, ao menos no todo, verdade, me levou a fazer convergir situações para que a verdade viesse a ser de fato verdadeira. Sem redundância, sem muita clareza, mas a lei é essa. Por exemplo, achar que se tem um gato quando se tem um cachorro leva, inconscientemente, a pensar que o cachorro vai comer comida de gato e agir como um gato. Isso não vai acontecer e a verdade imaginada, que no caso é ter um gato, será verdadeira, mas não no todo, quando o dono passar a agir como verdadeiro dono de gato e, então, no fim da história incompreendida, acabe comprando um gato. 

Mas a coisa anda e a pergunta que fica é: o que acontece com o cachorro?

Sendo esse verdade, a princípio, e no final das contas única condição verdadeira da história, o cachorro, com a chegada do gato, que então passa a satisfazer a verdade mental e habitual do dono, bom, o cachorro pode ser cachorro, comer comida de cachorro e fazer o que um cachorro faz. 

Tentando explicar melhor, uma verdade aparente que esconde a verdade absoluta permite que aquilo que é, e no fundo sempre foi, verdadeiro se sobressaia e possa sê-lo sem qualquer tipo de imaginação fértil e pessimista de que aquilo que não é pode ser uma verdade, mesmo que não passe, em suma, de mentira disfarçada.

*me sinto mais humano ao perceber 
que nada disso faz desaparecer qualquer coisa que, 
assim como o cachorro, 
é verdade absoluta.
Com isso encontro mais uma loucura que sempre esteve presente nos meus melhores dias, o que dá a certeza de que, quando for o momento de voltar, será muito mais difícil qualquer inconsciente triste assumir a condição de verdade.

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