sábado, 5 de março de 2011

Pedaços de um pensamento (8)


Foi-se o tango inconstante beirante, em questão de único passo, do tudo e o nada, a intensidade e a monotonia, a alegria e decepção. Não importa muito se não há definição clara e objetiva do que hoje ritma a dança. Até porque, não há sequer definição de qualquer coisa. Encaminhamento por conveniência não é válido, o incerto domina e o medo de que acabemos sentados, cada um de um lado do salão, impede de um simples 'então será assim'. Não há mais tempo para ensaio de passos, para uma tranquila e progressiva evolução. Tão somente o hoje é conduzido com algumas lembranças boas, uma ou outra segurança natural, um pouco de ajuda externa e muita vontade de que no final ninguém, incluindo-nos nesse grupo, lembre que algum dia pisamos nos pés do outro, atrapalhando o que poderia ser um espetáculo mas acabou sendo... uma grande confusão, sem chances de receber um elogio. Sem a necessidade dos aplausos antes, durante ou depois, fica muito mais fácil conduzir um passo aqui e outro ali. Muito mais do que querer esquecer o que foi, ou não foi, há um desejo de que, seja como for, os passos acompanhem o ritmo que devem acompanhar. É aquela história de acreditar que se for para ser uma grande apresentação, assim o será, mesmo que demore algum ou muito tempo. Por mais que a paciência seja um fator determinante para que novos erros não sejam cometidos, não há um marasmo que impeça o surgimento de novos passos, para frente ou para trás, direita, esquerda ou diagonal qualquer. Estamos assim, dançando como ensaio, quem sabe um dia veremos o começo de um espetáculo. Ou não, as possibilidades são muitas. O período da loucura impulsiva do tango passou, felizmente. Talvez hoje esses passos sejam de uma clássica valsa.

Ao final da música, quem sabe tocada em um piano também clássico, desejo sinceramente que haja um sorriso no rosto. Mesmo que eu tenha de aplaudir sentado em um dos cantos, e não no centro, do salão.

*I'm so happy when you dance with me

Um comentário:

Maria disse...

adorei o texto (: