terça-feira, 15 de março de 2011

Histórias do Bandiolo - Ah sim, você( Ato II )


(qualquer opinião deve seguir uma linha de raciocínio. Ou ser por ser, assim como gostar por gostar. Não compare qualquer coisa escrita por mim com qualquer coisa escrita por alguém, dias ou séculos atrás.)

Ato II

( o jovem entra no palco, ansioso por ver a amada)

- Com detalhes esplêndidos, oh belíssima Anabelle, conseguiste fazer de meus pensamentos um quadro comparável à qualquer pintura de Michelangelo. Meus olhos não precisam mais ver tua face para iludirem meu coração com um paraíso terrestre no qual começo a acreditar. Estaria pronta para nosso encontro? Ah, sem importância a pontualidade quando és tu quem espero. Demore o quanto quiser, esperarei-te por toda vida se assim aguentar.

(entra em cena, de cabeça baixa, um senhor de longos cabelos brancos, pele enrugada e caminhando com dificuldade)

- O céu se abre de alegria só por vê-lo em tamanha magnitude de felicidade, jovem apaixonado. A espera de tua dama?

- Certamente, gentil senhor. Minha amada está por chegar, acredito. E tu, que fazes por esses campos secos que na primavera emanam cores e adoçam olhos e lábios? Por acaso buscas alguém com idade semelhante, dom na arte dos doces e algum amor a oferecer?

- Meus tempos de amor se foram, sonhador e entusiasta rapaz. Tanto quanto ou muito mais do que tu, voei a lugares que nunca conheci apenas para viver um amor que não era meu.

- Não entendo, como podes ter buscado algo que não era teu?

- Creio que não temos tempo para esta conversa, neste momento. É visto que tua dama se aproxima. Deixarei-os viver na empolgação dessa paixão e voar como pássaros jovens, destemidos e ambiciosos.

( o senhor vira-se e começa a voltar na direção de onde chegara)

- Espere! Minha mente ficará perplexa e confusa até o momento da descoberta de tal experiência. Onde posso encontrá-lo?

- És muito atencioso. Algum dia nos encontraremos e te contarei tudo que puder para fazer desaparecer qualquer perplexidade. Não te preocupes com isso, é muito pequeno perto do que parece estar por vir.

( o velho senhor retira-se lentamente, sem fazer um ruído sequer enquanto Anabelle entra, ainda distante )

- Que quiseste dizer com isso? Velhos! Haverei de descobrir o que quis dizer com a busca e a preocupação. Pouco importa agora, minha Anabelle está vindo a mim. Que as pedras do céu caiam sobre minha cabeça! O ancião não fizera previsões de um futuro imaginário, mas de um presente visível e escondido por trás da face tristonha de minha amada.

(Anabelle aproxima-se, de cabeça baixa)

- Não há sequer flor, poesia ou outra pessoa no mundo que possa trazer consigo um semblante tão adorável e singelo quanto o teu, Anabelle. Meu coração briga com meu corpo para sair de meu peito e recostar-se na segurança de tuas mãos.

( o jovem segura as mãos de Anabelle, que permanece olhando para o chão )

- Entretanto, há uma mancha negra em tua beleza. Que pode ter acontecido de tão grave para que o sorriso mais belo tenha desaparecido de teus lábios e teus dentes que refletem a luz do sol, como nenhum espelho o faz?

(Anabelle não faz menção a palavra alguma, permanece em silêncio)

- A felicidade que havia em mim vai embora para a chegada da preocupação com teu mal. Por favor me diga, Anabelle minha amada, eu lhe imploro, o que aconteceu para que tua luz tenha se apagado quase por completo?

(Anabelle então levanta a cabeça e olha nos olhos do jovem)

- Não só a felicidade foi embora de ti como o calor de tuas mãos. Não há nada em meu coração, jovem por quem meus pensamentos perdem o sentido e minhas palavras perdem a direção. Nada que possa vir a preocupar-te e tirar o calor de teu corpo. Nada.

- Como pode não haver nada? Teus sorrisos sempre iluminaram nosso caminhar, a lua invejou-te por esses olhos cor de mel que fazem o luar incompleto sem eles, de teus lábios emanava amor e sustento para meu coração. Porém agora, nada disso trazes contigo e queres que eu acredite que não é nada? Anabelle...

- O vigor de teu sentimento por mim levantou-me tantas vezes quantas foram as que te vi. Tuas palavras fazem de meus tímpanos os mais bem tratados da face da terra. Insisto que não há nada comigo, nada em mim, nada.

- Alguém te maltratou, ou a tua família? Falta a eles ouro ou trabalho? Doença ou morte? Me diga, que há de negro em tua vida para que ela não seja a fonte de calor que sempre foi?

- Não insista meu amor. Não procures o que não podes encontrar. Semanas passaram e escrevemo-nas em livros de anos. Hoje meu sorriso somente parece ter ficado em lembrança por nada. Nada, meu amor, nada. Queres caminhar ou preferes que sentemo-nos aqui para aproveitar este vento que é carregador de males e bens, de amores e ódios?

- Por mais que discorde deste teu nada, e por mais que ele pareça muito para mim ao ponto de tirar-me a tranquilidade, não vou mais insistir. Escolhas tu para onde vamos, não tenho mais pensamentos para tomar uma decisão simples.

( o jovem e Anabelle saem para caminhar)

(fim do Ato II)

Um comentário:

Rebeca Postigo disse...

Curiosa por saber o que acontece no Ato III...
Esperando com ansiedade...

Bjs