sexta-feira, 18 de março de 2011

Histórias do Bandiolo - Ah sim, você( Ato IV )


( aprender a não esperar não serve para leitura e escrita, a não ser que você precise de um lápis ou um livro. Deixar que alguém, seja você ou qualquer outra pessoa, fazer algo para que esses dois verbos sejam atitudes suas não deixa de ser muito conveniente. Tanto quanto preguiçoso. Insisto, nada disso faz sentido )

Ato IV
Cena I

(Michelle chega em casa e encontra seu pai e sua mãe, bêbados em meio a uma já densa nuvem de fumaça de cigarro)

- Onde estavas, broto de uma noite tão sórdida quanto esta que hoje regamos, tua mãe e eu, com um pouco do manjar dos selvagens, onde estavas este teu corpo pequeno e inútil?

- A caminhar pelas ruas estreitas meu pai. O dia é lindo quando iluminado pelo Sol, mas a noite, com a lua e suas estrelas, ilumina menos, porém de um jeito todo especial. Deveriam caminhar um pouco sob o luar para apreciarem essa maravilha que lhes é permitida.

- Não venhas com tolices. Esta tua poesia não tem valor, não traz dinheiro ou comida. Não traz prosperidade a mim e tua mãe.

- Jamais prosperarão enquanto tiverdes como alimento esta bebida e estes pedaços de palha queimada encherem vossos pulmões de uma fumaça tão suja quanto o chão de nossa casa.

- Cale-se! Não tens direito algum de contestar nossas vidas. Deve-nos muito por não ter-te deixado ao relento da maldita noite de inverno que tirou de nós a liberdade de viver a juventude como merecíamos. Tão belos e vivos éramos e, somente por tua causa, perdemos tudo isso quando por maldição alheia, nasceste e nossos bons corações nos fizeram criar-te como moça de família.

- Se tivésseis bons corações, não estaríeis arruinando vossas vidas e também a minha vida. Vossos vícios e este ódio por supostamente ter-vos atrapalhado impedem-vos de viver a liberdade que ainda possuem, agora sem a responsabilidade sobre minha existência.

- Não somos mais jovens, não temos beleza e perdemos toda a vontade com anos de rotina estúpida e sufocante. Queres que vivamos uma suposta liberdade como? Não fale asneiras, estamos presos, como tu estás presa a nós, e ao nosso fracassado negócio, por toda vida.

- Tenho asas e sei que posso voar para onde meu coração quiser.

- Se tens asas, é uma galinha. Não podes voar, não és como outros jovens que podem ter o que precisam para suportar seus sonhos. Não conseguirás nunca.

- E vós, minha mãe, nada dizes?

- Serás apenas mais uma escrava deste mundo, menina. Me deixe em paz.

(Michelle sai repentinamente e vai para o quarto. Lá, abre a janela e olha para o céu)

- Sei que posso ir além. Tenho certeza de que algum dia conseguirei viver um sonho, seja meu por toda a vida ou por um momento. Trabalho muito por poucas moedas, não recebo apoio de meus pais mas, que mais poderia exigir além da vida que me conceberam e do alimento que até aqui me sustentou? Deus tenha piedade de suas palavras ásperas e sentimentos rancorosos. Eu vou viver, pois livre sou para caminhar, para sonhar, para amar.


Cena II
(o jovem está preso, e conversa com o policial)
- Por que vós me prendeis, policial? Moedas ou bens não me sobram, mas sou honesto e jamais cometi algum crime. Ou seria crime correr atrás da mulher amada?

- O pai de Anabelle me pediu que o segurasse quando visse tu próximo dela. Não te preocupes rapaz, quando o trem partir, estarás livre.

- Trem, que trem?

- Tua amada e o pai viajarão em poucos minutos.

- Não pode ser. Amo-a e recebo o mesmo sentimento daquele coração puro e cheio de bondade. Ela não me abandonaria sem prévio aviso. Ela não me abandonaria nem mesmo com um aviso de anos de antecedêcia. Que está havendo?

- Como eu, policial solitário, poderia saber disso? Mesmo que fosse conhecimento meu, não diria-te.

(o jovem vira-se, olha pela minúscula janela para fora)

- Como podes, Anabelle, ter me deixado aqui? Entendo tuas últimas palavras em meus ouvidos mas não consigo compreender por quê me deixaste aqui. Uma tristeza profunda faz-se presente e será futuro por todos os anos, vida inteira e também após a morte. Minha alma está seca com tua partida, com a distância que estás de meu coração, de meus olhos, de meus braços. Por que Anabelle, deixaste-me aqui, sem ao menos uma razão? Que tolice estou dizendo, mesmo com longas horas de explicação não entenderia, não aceitaria, não sentiria justiça nesta atitude tua. Seria culpa de teu pai? Sei que nunca gostou de mim, mas trabalhando honestamente conseguiria provar-lhe meu valor. Meus olhos doem pois minha mente antevê que não haverei de vê-la nunca mais. Não há mais dias, noites, que diferença faz a luz do Sol ou o brilho das estrelas se teu rosto não está mais próximo do meu para iluminá-lo, e teu coração não está perto do meu para fazê-lo pulsar com honestidade? Anabelle...

( encosta a cabeça contra a parede, nem ouvindo a frase do policial)

- Está solto, vá embora jovem.

( fim do Ato IV )

Um comentário:

Rebeca Postigo disse...

=)
Gostei do que li...

Bjs