sábado, 19 de março de 2011

Histórias do Bandiolo - Ah sim, você( Ato V )


(já deveria ter um final feliz, ou provavelmente infeliz, mas continuo com essa bobagem de escrever como se fossem estas bobagens uma peça teatral)

Ato V

(o menino de rua está sentado na praia, olhando para o mar)

- Cada dia que passa é um dia mais distante das palavras que ouvi, das imagens que vi, do calor que recebi e de tudo que um dia sonhei. Onde, eu só queria saber isso, onde?

(o menino olha para a Lua)

- Que queres me mostrar, Lua solitária nesse imenso céu azul escuro? Que esperas que eu diga, que estou feliz aqui e agora, imundo e sem chance alguma de prosperidade em qualquer que seja o dito espaço de minha vida? Tu que, desde o surgimento da fala humana, és musa para poetas loucos, bobos e utópicos sonhadores, que esperas que eu faça hoje, aqui e agora? Fosses tu uma estrela cadente que rasga o céu e, dizem as línguas daqueles mesmos poetas que tanto te adoram, concebe um desejo para quem a vê, te pediria não uma pessoa, não um sonho, não uma mudança, apenas e tão somente apenas uma imagem. Que meus olhos pudessem vê-la sob a tua luz e de tuas estrelas. Nem palavras ditas com tão doce voz, nem escritas em cartas cheias de carinho e sinceridade, tampouco um toque leve, sutil, suave. Apenas uma imagem, Lua distante e estranha, bola branca que todas as noites passa por minha vida sem nada deixar além do sentimento de solidão e daquela nostalgia digna de velhos mancos que desistiram de recorrer a ti como ouvinte. Tu passas e nada muda tua rotina. Agora as nuvens passam em tua frente. São fracas, ainda posso vê-la. Consegues ser tão incrível em dias como hoje. De alguma forma, fazes com que tua luz transpasse as nuvens deixando sobre elas um círculo em volta de onde estás. Como és indecifrável e admirável, Lua brilhante e distante. Se pudesses ouvir meu lamento, se pudesses limpar minha alma...

( o menino olha para o lado e vê o pequeno cesto com morangos que ganhou de Michelle )

- ... partem desses morangos tua resposta? E todos aqueles que passaram, prometeram e nunca voltaram? Todos que disseram importar-se e nenhuma palavra me dirigiram depois? Todos aqueles que aparentaram amizade mas que sequer por um momento agiram com tal valor? Queres ainda que espere por seres humanos mais limpos do que eu por fora, porém com almas e histórias mais sujas do que a minha? Se é essa tua resposta singela Lua, com o perdão de minha falta, não posso mais.

( o menino levantou-se, segurou o cesto e estava pronto para jogá-lo no mar quando percebeu um bilhete nele. Desistiu e sentou novamente, olhando para o céu, buscando entendimento)

(fim do ato V)

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