terça-feira, 29 de junho de 2010

O vazio de viver e só


O vento lá fora faz barulhos semelhantes aos uivos dos lobos. Sei que a culpa não é dele, vento, pois não faz barulho, é discreto, solitário. Ah sim, aquela fresta da janela que não consigo fechar. Por sua causa ouço ruídos de alguém que não faz ruídos. As leis da Física podem explicar por que pequenas frestas geram tantos ruídos, não eu. Não vem ao caso. Decido parar de escutar essa barulheira do mudo vento e saio de casa. Caminho sozinho pelas ruas desertas da capital. Inacreditável mas real. Não por ser feriado, por alguma greve ou bobagem semelhante. Ninguém está presente na rua porque o vento, novamente ele, é forte, é consistente e, mesmo solitário, é decidido e voraz. Ninguém quer estragar o cabelo, a roupa, deixar que ciscos entrem em seus olhos, ninguém quer, exceto eu. Pouco importa a mim o que importa aos outros, meu corpo é apenas corpo. Pouco importa também que o vento leve o meu calor consigo, dissipando-o e esparramando-o até que não haja mais vestígio do calor que antes era meu. Insisto, pouco importa-me não ter mais o calor que meu próprio corpo, com o qual também pouco importo-me nesse momento, gerou. Quando percebi, havia levado além do meu calor, parte importante da minha felicidade, sem que eu pudesse vivê-la concretamente. Mas sei que o vento não tem culpa. Pouco importa a chuva iminente, o vento cada vez mais vigoroso, o cansaço cada vez maior. Pouco importa-me eu, no meu caminho inconstante, nos meus aprendizados inúteis, em mais uma tristeza velada e enterrada, em todas as lições reaprendidas seguidamente e sem necessidade. Sem importar-me com coisa alguma, luto contra o vento que nem sabe que existo, mas que levou parte de mim. Sem forças, luto contra mim, contra meu passado enterrado, contra mais uma dor que tira de mim o sorriso, a força, a vontade e, céus, a espontaneidade. Não sei por que o vento não leva, ao invés do meu calor, o meu coração, uma vez que não sei por que ainda o guardo.

Um comentário:

Taw disse...

tecnicamente [em termos físicos], o vento faz é tentar fazer com que não haja vazio...

Se nada, nem o vento corresse para ocupar o "vazio" que não chega a haver, alguém seria sugado para tal... suspeito.

:P

xD

muito legal o texto... hehehe