sexta-feira, 18 de junho de 2010

Histórias do Billi J. - O perdão é doce como um sorvete


A infância seria a fase de maior aprendizado com os erros se as crianças tivessem a capacidade de aprender com os erros. Levando em conta que a maioria dos adultos não consegue aprender de fato com seus erros e crescer, não se pode querer que as crianças o façam. Felizmente as crianças tem essa capacidade de perdão ilimitado, de pouca lembrança das lágrimas e das decepções e sempre recomeçam as coisas de onde as fizeram parar. E o Billi J. não foi diferente, embora...

Diferente de tantos outros dias, o Billi J., então com uns 8 anos, foi bem recebido na escola. Seus colegas o cumprimentaram e tudo mais, chamaram-no para brincar e correr sem responsabilidade pelos gramados imensos e vivamente verdes da escola onde cursavam... bom, uma das séries do ensino fundamental. Mas aquela recepção calorosa, contrariando o rotineiro desprezo pelo Billi J., tinha uma explicação: se a turma respondesse à uma pergunta do professor de Matemática, ele os levaria para brincar na praça da cidade. E como o Billi J. era, provavelmente, o único capaz de responder à pergunta, ele fora bajulado durante toda a manhã por seus colegas.

O Billi J. sentia-se tão bem com toda aquela atenção que demorou segundos para responder ao difícil teste proposto pelo professor. Incrível até mesmo para ele, acostumado com desafios escolares. Pois então aqui e lá, almoço, janta e felicidade e no dia seguinte o Billi J. estava novamente na escola. A recepção não fora tão boa, mas ainda recebeu uns três ou quatro cumprimentos, dentre os quais o de uma menina... enfim, vocês sabem quem acabou sendo. E pelo cumprimento dessa menina ele foi ao céus, do alto do seu metro e pouquinho de altura. Como estava feliz...

Então tá e tá, formaram duas filas, uma de meninos e outra de meninas, para irem até a praça. Só que o seu melhor amigo Borongo(insisto que não lembro o nome dele) precisaria parar na loja de seu pai para pedir o dinheiro do sorvete, porque claro, criança que não come sorvete não é criança. E o Billi J. tinha combinado de esperá-lo para que ele não tivesse de ir até o centro sozinho, longe da turma.

Passos e tá, cantos de criança para passar o tempo mais rápido, professor que manda ninguém atravessar a rua sem olhar para os dois lados, aqui e lá e o Borongo então entrou na loja do seu pai e disse 'já volto Billi". Só que o Billi J., no alto da sua inocência ouviu um "não espera ele, pensa bem Billi J., dois amigos valem mais do que um". O Billi J. pensou, pensou e pensou. Sua cabeça era tão matemática que tinha lógica aquilo. 2>1 e problemas resolvidos.

O Borongo ficou decepcionado e o Billi J., sem perceber a gravidade da escolha que fizera, seguiu seu caminho como se fosse a coisa mais certa do mundo, afinal, não havia nada de errado em seguir a matemática. Chegando na praça, o Billi J. viu sua vida voltar ao normal. Seus colegas pegavam seus óculos e enterravam, atiravam pedras nele como se ele fosse um pássaro, uma latinha vazia ou algo do gênero e tudo mais  que crianças ruins fazem com crianças inocentes, como o Billi J. . Ao ver que Borongo chegava, ele o chamou, mas ouviu um "dois amigos valem mais do que um né Billi, fica com esses dois, ou quatro, ou seis".

Aquilo doeu. E doeu muito no Billi J., embora não tivesse a consciência completa do que acabara de acontecer, de fazer, de ouvir. Não entendia como aquilo, aquela história de amizade funcionava. Seu professor de matemática ali, sentado lendo um jornal e vendo ele ser humilhado pelos colegas sem sequer pronunciar uma palavra. Seu melhor amigo não querendo lhe ajudar porque... é. E ele ter deixado seu melhor amigo por amigos que não eram seus amigos, nunca foram e nunca seriam, decidiu.

Não era raiva, não era ódio, não era nada. O Billi J. só estava triste e nem o gesto daquela menina morena, com olhos lindos, rosto de anjo e voz tão doce quanto sorvete de chocolate poderiam fazê-lo feliz.

Estava triste por não ter sido amigo de seu melhor amigo. Não adiantou pedir desculpas, ficar próximo, chamar para conversar, brincar ou estudar o comportamento das formigas que carregavam migalhas de casquinha de...

Sorvete. Comprou um e o ofereceu a Borongo, entretanto só daria-lhe se ele lhe desculpasse.

O que aconteceu? Alguém chuta?

Pois é. Os colegas deles chegaram, tomaram o sorvete do Billi J., deram uma mordida e jogaram na cabeça do Billi J.. Borongo riu e, após mais um insistente pedido de desculpas de um arrependido Billi J., disse "tá bom Billi".

Quem dera os adultos perdoassem assim como as crianças perdoam, por um sorvete ou por um sorriso. Ou pelos dois.

4 comentários:

Rebeca Rocha disse...

"Quem dera os adultos perdoassem assim como as crianças perdoam, por um sorvete ou por um sorriso. Ou pelos dois."
concordo muito!

http://rebecarocha14.blogspot.com/

Taw disse...

Se as crianças perdoam mais, então são mais inteligentes [na prática]...

:/

Jééh disse...

acho que é por isso que todos têm a infância como a melhor parte de suas vidas, pela inocência, honestidade e simplicidade nas relações...

... nem preciso que mais uma vez mais um belo texto ^^

SiL disse...

Vini, quanto tempo que eu não passava por aqui... Ah crianças.. precisamos ter mto delas.. bjusss