quinta-feira, 5 de abril de 2012

Retratos de uma sociedade patética(10)

*o título desse conjunto de textos era condizente
com a fase vivida quando comecei a escrevê-los.
Hoje, não há tanto sentido em colocar o patético.
Até porque, isso não é um retrato em si de um
grupo de pessoas e sim um desabafo por sentir-me
colocado no meio de um grupo qualquer, sempre
e sempre.

Por mais que faça sentido e seja, também por escolha, a opção pela coerência é difícil e oferece riscos enormes. O primeiro envolve a manutenção da coerência pois é preciso sempre levá-la em conta em cada escolha habitual. Sem paranoia ou radicalidade, apenas tentando manter uma linha de pensamento, de certeza. Propor-se coerência sem ser coerente nas escolhas diárias é estar sem guarda-chuva, embaixo de chuva, e reclamar por estar se molhando.

Não tem sentido.

O segundo ponto, igualmente importante, envolve aquilo que não se deve fazer para manter-se coerente com o que se quer, pensa, enfim. Isso destoa da primeira questão, a das escolhas, porque vem antes, é específica e independe de possibilidades. Ter consciência do que não se deve fazer, falar ou mesmo pensar é importante para evitar erros tidos como naturais mas que, por não condizerem com a proposta inicial própria, o que acarreta em sentimento de culpa, decepção e o inevitável: ser tachado de hipócrita por outras pessoas. Embora, no final das contas, essa última seja a menos importante de todas as consequências.

Ainda sobre isso, e sem mais alongamentos desnecessários, ter de evitar alongar pensamentos para impedir que maus costumes voltem à tona, que palavras vazias saiam por impulso, mesmo que sem qualquer intenção. Errar com as mesmas palavras, com a mesma intenção egoísta é renegar tudo que passou, tudo o que foi aprendido, tudo o que demorou muito tempo para ser assimilado. Ter uma recaída, por assim dizer, agora é fingir que nada aconteceu e, depois, passar pelas mesmas situações ruins de outros tempos - que, por terem sido feitas outra vez, serão piores.

O contraponto, que pesa muito, é perceber que, assim como das outras vezes, é preciso provar por mim algo que nunca fez parte de mim. O que se tem por geral e acaba sendo jogado como parte de mim irrita e cansa. Por que, sem fazer parte de um grupo de pessoas com atitudes específicas, sou julgado da mesma forma? Não faço parte dele, não tenho as mesmas atitudes que aquelas pessoas. E não é julgamento de uma ou outra pessoa. É de todas elas. Desde que me conheço como alguém mental e socialmente ativo, tenho de tentar provar algo que, por justiça, seria desnecessário.

É como se tentasse dizer que não fiz algo mesmo que não estivesse presente no lugar onde a ação ocorreu. Nem coloco o termo injusto aqui porque talvez seja exagero, embora não deixe de ser uma. Além disso, apesar de ser coerente com o projeto de sinceridade na maioria absoluta dos momentos, tenho de conviver com suposições quanto à veracidade das minhas palavras.

Eu sou um tanto radical com isso, faz parte da minha personalidade, construída ao longo dos anos, ser bem rígido comigo mesmo nessa vivência coerente daquilo em que acredito. A sinceridade como ponto chave - e que está presente inclusive no nome do que tento viver a cada dia - sendo encarada com coerência tranquila e até mesmo espontânea, não será desvirtuada tão facilmente. Não estou, e nem pretendo estar, acima do bem e do mal porém, não tenho medo algum de concluir que, por tantos e tantos motivos, não transformaria a minha sinceridade em algo banal somente por achar conveniente para com outra pessoa.

Cansa ter de, tantas vezes, fazer mais do que o suficiente para ser entendido, para ser respeitado e para ter aquilo que é próprio meu aceito como verdadeiro. Enquanto tantos ganham chances sem fazer esforço algum, tento encontrar brechas em alguns espaços minúsculos para conseguir provar o que não deveria sê-lo feito. 

De certa forma é sim, uma reclamação. Não por birra ou para querer mostrar que sou isso ou aquilo. Apenas estou cansado de precisar compensar erros alheios somente por ser julgado pelo todo, e não especificamente por mim. Tantos o fazem e outros tantos ainda o farão. Provavelmente a maioria. Poucos, de fato, conseguem compreender a grandiosidade da singularidade de caráter.

E talvez ninguém consiga entender o quanto isso é importante para mim. Com sinceridade, coerência e verdade.

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