sexta-feira, 13 de abril de 2012

Histórias de uma vida não vivida (44)

*Desperte da escuridão, pedaço reprimido pela sensatez. Saia de mim, agonia amaldiçoada por tudo que é correto. Os pequenos detalhes que transcrevem essas palavras são insignificantes perante o que existe, de verdade. É como se estivesse disfarçando tudo aquilo que incomoda, escondendo tudo o que irrita e transformando tudo o que atua com a adrenalina em poeira miseravelmente passageira. O que surge logo desaparece, levado por um vento estranho, lento vento, inexplicável com palavras. Até mesmo as lágrimas ele leva. E, com tudo mais que passa do inevitável para o desnecessário, desaparece, sem deixar resquícios de sua existência, ou da existência daquilo que um dia pareceu ser porém não passou de mera sensação.

Há dias em que a violência toma conta de mim. Sério, não consigo ter paciência sempre com tudo e todos, ainda mais quando surgem idiotas, óbvios ou irônicos, que conseguem fazer com que a minha vida passe do aceitável para o insuportável. Eis que, hoje, decidi me rebelar contra isso de uma maneira bem simples, usando de um artifício estúpido. Desci ao nível dos ridículos, caí ao nível dos idiotas e, digo mais, o abismo é tamanho que não há nível positivo que condiga com o que quero fazer.

Fiquei louco. E serei violento.

O mais irônico disso é que, mesmo quando decidi que acabaria dando um esporro, verbal ou físico, em tudo que acabasse com o meu estado de espírito equilibrado, acabei condicionado a alguns detalhes:

1 - A polícia. Sair batendo em todo mundo até vai, mas na frente da polícia, não. O arrependimento por semanas, meses ou anos na cadeia, por bater em civis, ou policiais civis, seria grande demais. O politicamente correto age mesmo quando tento deixá-lo de lado. Fico pensando na resposta que daria se me perguntassem o porquê de estar batendo pra valer em todos esses infelizes. Talvez fosse algo como 'alguém te chamou aqui?' ou 'você sabe com quem está falando?' ou, talvez a melhor, 'se você não sair daqui vai ser o próximo'. Pensando bem, é melhor evitar o confronto, não quero ser alvo daquelas máquinas imobilizadoras com choque elétrico, o cara fica todo retardado depois de levar uma  daquelas;

2 - Os sensacionalistas defensores dos animais. Dar um chute naquele cachorro imundo que estava prestes a mijar nos meus pés seria bom para o meu propósito de violência para libertação de raiva porém tenho consciência de que sempre tem um idiota parado na rua sem fazer nada que pega o celular e filma tudo. Meu rosto apareceria na internet e seria alvo de fanáticos defensores dos animais até mesmo enquanto estivesse no banheiro. A vontade de mandar essas bichinhas hipócritas, que não querem violência contra cachorros mas não pensam duas vezes antes de pisar em baratas e atirar pedras em pássaros, para a p...onte que partiu é tão grande que eu mesmo queria ser capaz de arremessar um deles para lá. E ainda colocar no youtube depois;

3 - Dona Matilde Ferrari: minha sogra. Aquela jararaca dos infernos me puxaria para o mundinho quente e amaldiçoado dela se descontasse minha irritação, de maneira violenta, na filha dela. Amor, é brincadeira tá, em você eu não desconto nem uma pena :)(mas a sua mãe é sim uma cobra perigosa, só você não vê);

4 - Ronald Twinquer, meu professor de jiu-jitsu. Se aquele monstro disfarçado de professor de lutinha descobre que saí usando golpes que ele ensina até para aqueles pirralhos de 7 anos, não sobraria muita coisa de mim. Talvez alguns ossos da mão ou do pé. Talvez. Pacifista hipócrita, dá a entender que é a favor da paz, que as técnicas de luta não podem ser usadas na rua e tal mas só ele não sabe que todo mundo nesse inferno de cidade sabe que ele já agrediu 20 pessoas em um bar. Naquele dia, o tele-entulho recolheu 612 quilos de vidro quebrado. Mesmo assim, não posso competir com ele;

5 - João Panás Gonzáles, o mendigo. As minhas ações estão condicionadas a não reações dele sobre mim por um simples motivo: ele sabe usar um canivete como ninguém. A vontade é de, à noite, ir lá e roubar aquele canivete, quebrando-o em mil pedaços mas... alguém já fez isso e o infeliz conseguiu consertar. Para piorar, já vi ele furando dois plaiboizinhos que tentaram queimá-lo vivo. Também entra nessa lista porque não aguento mais a sua mania de me pedir, todos os dias, 'um trocado pra mim comprá leite pras criança'. Eu juro que se ele falasse a verdade e dissesse que queria dinheiro para comprar cachaça, eu dava dinheiro para ele (mas só uma vez);

6 - A lista continua com a Doutora Janice Quadros, a vaca gorda. Tenho feito algumas comparações visuais e, se alguém tiver uma trena suficientemente grande para medir a barriga dela, olha, o valor dessa medição passaria o da circunferência da Terra. Sério, e ela ainda teve coragem de, dia desses, me dizer com um sorriso no rosto: "Você precisa fazer academia, está começando a ficar com barriga de cerveja". EU NÃO BEBO CERVEJA! Inferno. Ela é psiquiatra, não nutricionista ou personal trainer. E ainda por cima me diz, toda maldita semana, que ' é fraco o homem que cede a seus impulsos '. Eu queria mesmo ser muito fraco para dar umas livradas bem dadas naquelas bochechas  inchadas;

Minha raiva contra essas pessoas idiotas só aumenta na medida em que o meu contato com eles se mantém ativo. Estender a uma atendente uma nota de 100 reais e ainda ouvir um 'vai pagar à vista?' me faz desistir de ser uma pessoa sociável. Queria poder comprar tudo pela internet mas... ah, os atendentes de telemarketing, preparados pelo próprio encardido, não fazem outra coisa senão ligar para o meu CELULAR às 7 da manhã do sábado para perguntar se não quero colocar no débito automático as minhas contas que... estão no débito automático. E depois, para completar, a pessoa da tele-entrega ainda me pergunta 'quer que entreguemos na sua casa o seu almoço?'.

É impossível. I-M-P-O-S-S-Í-V-E-L.

Chega dessa baboseira, preciso traçar um caminho para levar a minha fúria ao extremo. Talvez um bastão de... porcaria, no brasil ninguém joga baseball. Ou um taco de... é, 'não temos tacos de hóquei', já me disse um atendente afeminado. Se bem que... não, o João fedido não me emprestaria o canivete e... sem as técnicas de luta, não me sobram muitas opções.

Sacanagem, preciso me conter por mais alguns dias até achar uma solução. Mais alguns dias... ah, inferno.

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