sábado, 17 de setembro de 2011

A porta


Eu já não aguentava mais ver aquela porta abrindo e fechando como se não houvesse um amanhã. Havia um amanhã para mim sim, embora aquela porta insistente lutasse incansavelmente para me fazer acreditar que não. Quanto mais pessoas entravam, mais pessoas saíam e essa troca estúpida de rostos não refletia em acréscimo, decréscimo, nada. Tudo permanecia a mesma coisa e aquela porta continuava a abrir-se e fechar-se transformando em impaciência toda a minha despreocupação temporal. Antes que me chamem de egoísta digo que entendo que aquilo precisa acontecer porque todos tem o mesmo direito mas... por que parecia que aquela porta estava rindo de mim?

Depois de algum tempo, comecei achar aquilo tudo muito irônico. Logo eu, paciente até com a falta de qualquer coisa de todas as outras pessoas, estava impaciente por parecer estar no mesmo lugar há horas, embora o movimento fosse retomado toda vez que aquela maldita porta se fechava. O problema maior foi quando uma menina e uma senhora atravessaram aquela porta, aberta, e entraram rindo.

Não sinto inveja da alegria alheia mas, não, era demais. Aquelas pessoas não deveriam ter motivos para sorrir. Não tinha motivos para sorrir e ninguém que já tivesse passado por aquela tábua de metal em movimento há horas também não tinha. Ninguém então, em sã consciência, deveria sorrir justamente, e aí entendi qual era a ironia, ao atravessar a porta que levava ao começo do fim da paciência, da tolerância e até mesmo da compreensão de que, assim como toda agonia, aquela que estava sendo causada por uma opaca porta de metal também teria um fim.

A impaciência acaba, a angústia, geralmente, também, a intolerância é um estado passageiro que desaparece com o tempo. Tempo que não parecia existir quando me via preso, amassado e em frangalhos, sufocado e ridicularizado por uma lata, velha. O egoísmo tem fim quando entendo que o sorriso das outras pessoas era o único sopro de vida em plenitude que poderia me acalmar naquele momento. Não adianta pensar nisso agora, mas é elogiável(mas não muito) o raciocínio.

Quanto ao fim disso... bom, quem se importa com o fim?

*Aliás, há muito tempo não sei o que é fim. 
A falta de um final aqui prova que não estou mentindo.

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