quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Pedaços de um pensamento (24)


Toda vez que me deparo com imagens volto ao terror da incapacidade. Não posso fazer qualquer analogia ou tentar desviar da realidade pois não consigo pensar em algo sequer parecido. É possível que só reste, agora, aceitar e conviver com a ideia de que não é possível voltar à vida normal, voltar a um estado anterior, tal qual se faz com um computador. São muitos nãos e todos impossibilitam a simples reação indiferente ao monstro, em tamanho e intensidade, que algum dia aquilo... foi?

Difícil.

Sinto-me exausto pela rotina, pelo meu tempo que não tem liberdade e sentir uma pontinha... mentira, quase um iceberg, de 'quem dera fosse eu' não ajuda a descansar, não ajuda a tranquilizar, a dormir em paz como se a vida fosse linear e o que passou, passou.

Poderia me precipitar em dizer que é impossível, poderia acertar em cheio e evitar que um novo e longo tempo viesse para me mostrar algum dia isso, jogando para mim a responsabilidade de assumir a culpa por tanto tempo perdido.

Perdido?

Não, disso eu tenho certeza, hoje, porque não há mais espera, não há mais imaginação, não há mais vontade. Falando em um nível racional, naturalmente. Porque foram tantas as vezes em que o objetivo, de não ter qualquer sensação afetando o comportamento, não foi alcançado que sei até onde o tempo permite ir, até onde a razão bloqueia o espontâneo da natureza e até onde eu consigo entender que tudo isso, agora sim, é normal.

Tenho pouco tempo para pensar, quanto mais escrever. As atividades que começam às 7 e 30 de manhãs frias e terminam depois das 22 e 30 de noites frias, com poucas e curtas interrupções, impedem que eu possa parar, pensar no tempo e dizer, para quem quer que seja, "então será assim".
Novas escolhas, opcionais ou impostas por qualquer tempo ou destino, surgem e poucas delas conseguem me fazer sequer pensar em uma nova rota para fugir de um marasmo no qual continuo afogado, agora sem tempo para respirar, embora não me impeça os movimentos como fazia há tempos.

Você não vai entender. Ninguém vai entender.

De simples, sinto saudade de grande parte daqulo que não quero deixar apenas no passado. Se não consigo voltar a uma normalidade que, vejo hoje nunca ter existido, por que não criar uma normalidade, agora?

Sem indiferença ou fingimento. Tudo, tudo mesmo, pode mexer de algum jeito comigo. Isso não impede mais de ver, e algum dia viver, aquilo de outra forma.

Não menos sincera.

*e pensar que esse pensamento todo veio sob forte e congelante vento, há pouco mais de 20 minutos. Enquanto caminhava, tentei analisar carros e pessoas que transitavam ao meu redor, pelas, ruas, calçadas, escadas e mesmo sacadas dos apartamentos. Fracassei como analista de trânsito porém, ao mudar o ângulo de visão e associar a esse um documentário visto durante a infância, consegui entender que muito mais do que naquela situação, poderia ver outra, e outras tantas, com olhos muito menos próximos.

Nenhum comentário: