segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Histórias do Billi J. - Eu sou você amanhã (1)


- E aí seus medonhos! - disse, sorrindo, o Billi J..

Agora estavam todos reunidos. Todos os quatro, no caso.

- O que temos para hoje? - perguntou aos outros.

- Estou com fome.

Esse era o Rafael, pensando, quase sempre, nos prazeres básicos da vida, como comer.

- Eu também.

Luiz, vinte e dois anos de muitas bobagens feitas que demorou um pouco para perceber que amigos de verdade tinha poucos.
- Acho que todo mundo está com fome. Corremos que nem uns idiotas.

Palavras do Douglas, o mais velho. O mais experiente. O mais radical, irônico e despreocupado. E geralmente o menos empolgado com atividades físicas.

- Mas foi engraçado ao menos.

Esse, óbvio, era o Billi J. .

- Me lembre de cortar os pulsos antes de aceitar quase morrer correndo com vocês, de novo. - insistiu Douglas.

Todos riram.

- Então vamos comer logo que eu quero dormir cedo. - insistiu Rafael.

- Agora que você está solteiro não tem motivos para ir dormir cedo.

Todos riram.

- Mas o que vocês querem fazer, querem me levar para o mal caminho?

- Você já está no mal caminho, namorava a mulher que ama e agora está solteiro, quer caminho pior? - ninguém lembra quem disse isso.

- Diz o cara que esperou anos praticamente sozinho para namorar o tal 'amor da vida'.

Todos riram.

- Não fica tripudiando com quem está solteiro. - a voz da sabedoria do Luiz.

- Quando a Renata ainda tava bem longe vocês ficavam soltando piadinhas, rindo da minha cara e dizendo que eu, pai, só se adotasse uma criança, é a minha vingança.

Ninguém riu. 

O silêncio imperou. 

O clima pesou.

Eles se olharam.

Então riram.

- Terminar o namoro foi uma escolha sua, pelo que você disse.

- Ela era muito ciumenta, não podia sair com vocês que ela já perguntava onde íamos, como íamos, com quem íamos, quando voltaríamos, o que iríamos fazer.

-Todas nos enchem de perguntas.

- A toda hora, a toda ação e, se pudessem descobrir o que pensamos, nos fariam perguntas a cada pensamento.

- Não esqueça de cada olhar, você olha para o outro lado da rua procurando uma loja e elas já te cutucam perguntando por que você estava olhando para a bunda da atendente da farmácia. Detalhe: a atendente da farmácia estava dentro da farmácia, atrás do balcão e a única coisa que se podia ver da rua eram caixas de pasta de dente.

- Sério isso?

- Claro, fatos verídicos.

- Ei, o assunto é comigo, a reclamação é minha agora!

Todos riram.

- Fala então.

- Valeu Billi. Eu ia dizer que a Andresa era pior. Sempre achava que eu tava saindo com outra pessoa, que tava traindo ela. Três anos de namoro e não confiava em mim mesmo que eu nunca tenha dado motivos para ela desconfiar. Eu me sentia uma bosta de homem com isso.

- Você é um bostinha.

Todos riram.

- Rafa, claro que, também, dar carona para uma mulher que tem fama de garota de programa não tem nada a ver com o ciúmes da Andresa.

Todos riram.

- Douglas, você sabe que eu não fiz e nunca faria nada enquanto estivesse namorando né?

- Claro que não, só não quero falar de assuntos sérios enquanto estiver com a camisa molhada de suor e os pés cheios de lama.

- Vamos tomar banho e depois comer.

- E depois?

- Tem baile de formatura hoje, eu posso consegui ingressos.

- Claro Douglas, você conhece todo mundo nessa cidade, como não teria ingressos para uma simples formatura de... de que?

- Mas você é mesmo um grande filho da mãe, Douglas. Arruma um baile de formatura no dia do último capítulo da novela. Como que eu vou assistir o último capítulo da novela se tenho que ir no baile com vocês?
Todos riram, muito.

- Tá, é formatura de que curso?

- Sei lá, só sei que tem baile.

- Não tem muitas opções de curso nessa universidade medonha.
- É, são só sessenta e sete cursos, entre técnicos e superiores.

- Como você sabe?

- Li no panfleto que tá ali. - apontando o dedo para a parede.

Todos riram.

- Fechado então, vamos para o baile afogar as mágoas.

- Luiz, ainda guarda mágoas da Mari?

- Eu sempre guardo mágoas, de tudo e de todos.

Todos riram. Sabiam que ele estava brincando.

- E eu não estou brincando, guardo mágoas até de vocês.

E riram novamente. Ele estava sim apenas brincando.

- Estão achando que é brincadeira né?

E era.

- Então vamos logo que eu estou com fome.

Saíram.

(...)

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