sábado, 3 de outubro de 2009

Um presente às avessas. Uma lição.

Prestes a completar 18 anos, só existe um presente que ainda não ganhei. E é provável que demore muito a ganhar ainda. Não, não é a formatura, não é um notebook, não é um suprimento vitalício de bergamota ou Fruki. Nada disso. E também ninguém aqui vai saber além de mim. E do meu eu-lírico.

Ontem eu ganhei uma coisa que há tempos precisava. Uma lição de vida. Deus colocou no meu caminho alguém que precisava de atenção, porque sabia que eu, de alguma maneira, daria atenção àquela pessoa. Um mendigo bêbado, como ele mesmo descreveu-se. Que trazia consigo uma garrafa de cachaça, o motivo para ter largado mulher e filhos. Alguém que há anos dorme nas ruas e que até já foi quase morto por (malditos) plaiboizinhos que usam correntes de ouro e que colocaram fogo nele. A marca no seu braço direito mostrou-me que aquilo não era apenas história.

Aquele homem contou-me sua triste, deprimente, errada e violenta história. Alguém esquecido pelas pessoas que compram votos, por aqueles que acreditam que partido X ou Y vai resolver o problema. Esquecido por quem deveria ajudar. A todos, e não apenas aqueles que colocam um número na camisa e saem por aí fazendo campanha.

Esquecido por pessoas que dele ouvem, assim como eu ouvi, um "boa noite, e que Deus lhe abençõe". Eu prestei atenção nele, ele interrompeu o seu, e o meu caminho para conversar. Jamais havia visto-o. Dificilmente voltarei a vê-lo. Mas aqueles minutos foram um verdadeiro presente de Deus para mim.

E antes que eu pudesse dizer que não tinha dinheiro para comprar a pomada que a sua queimadura exigia, ele disse que para mim não pediria nada, pois aqueles minutos de conversa, aquela atenção humilde lhe era suficiente.

Conheci e conversei com alguém que passa pelo pior que uma pessoa pode passar. E mais até, porque fome, frio, um vício ou mesmo o fato de ser ignorado por todos, mesmo lhes desejando o melhor é o pior. Ou deve ser o pior. Agora ser quase queimado ultrapassa isso.

Tive pena daquele homem. Sério, eu disse para a Jah que, mesmo que ele fosse comprar cachaça depois, se eu tivesse dinheiro naquele momento, daria para ele comprar o remédio que precisava. Não me importaria se soubesse que ele não fora comprar o remédio, porque alguém naquela situação precisa de alguma coisa que a faça esquecer da própria situação por alguns instantes.

Como tenho a certeza de que ele esqueceu tudo de mal que tinha no momento que ganhou um olhar atento e ouvidos abertos direcionados a si.

Me sinto mais humano depois disso. Mais próximo da triste e deprimente realidade social. Curiosamente, me sinto mais próximo de Deus também. Mais maduro e pronto para entender o ser humano ainda mais.

Tenho que repetir.

Me sinto mais humano.

Obrigado, Deus. Esse foi o meu presente de aniversário antecipado.

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