sábado, 20 de junho de 2009

Histórias do Billi J. - Em primeira pessoa, pela terceira pessoa


"Pois é meu amigo Vini Manfio, as coisas por aqui andam relativamente bem. Isso quando andam. É tanto trabalho, estudo pra aprimorar o inglês, o espanhol, o italiano e o mandarim que eu quase não tenho tempo de ler o teu blog. Bom, mas vou contar o que aconteceu comigo no dia 12 de junho, ou seja, na sexta-feira da semana passada.

Acordei às 6 da manhã, como faço todo dia, pensando que aquela seria uma sexta-feira bem normal, afinal, apesar de quinta-feira ter sido Corpus Christi, eu teria que trabalhar do mesmo jeito. Então fui ao banheiro, depois pra cozinha, sabe, necessidades básicas. Mas quando olhei no celular, 5 mensagens recebidas. Durante a madrugada. E não mensagens de Twitter, com 140 caracteres. Mensagens com todos os 1000 e poucos caracteres disponíveis. Muito estranho.

Mas tudo bem.

Fui lendo as mensagens enquanto comia o meu sucrilhos matinal e, tirando o fato de serem 5 escritas durante a madrugada, nada anormal. Eram mensagens cheias de "eu te amo" e tal. Da minha namorada, óbvio. Mas como eu disse, nada estranho, ela sempre faz isso.

Nos encontramos no trabalho. Ela chegou para mim cheia de afagos e beijos e eu, sem entender mas querendo aproveitar o momento carinhoso dela, retribui tudo como se alguma coisa estivesse ou fosse acontecer naquele dia. Aí cada um foi para seu lado trabalhar e pronto.

Nos encontramos no almoço. Percebi que ela não estava mais tão animada, não vinha com tanta vontade de me afagar como antes. Mas tudo bem, normal isso também. Quando repentinamente ela sorriu e disse:
- Adivinha o que eu tenho na minha bolsa...?

- Maquiagem, celular, espelho, caneta, papel, lápis, de escrever e de olho, o chaveiro que te dei,
dinheiro, documentos... acho que é isso.

- Bobinho. Até parece que não sabe que dia é hoje.

Meu amigo, aí começou o meu inferno.

- Claro. Claro que não sei. Hoje é sexta-feira, um dia normal e comum.

E ela como quem diz "eu sei que você sabe", me respondeu suavemente:
- Tá, mas você não adivinhou o que eu tenho na minha bolsa.

- Chocolate?

- Não.

- Bala de menta?

- Não.

- Bala de banana?

- Não!

E com essa exclamação eu defino que ela começou a perder a paciência. Pena que eu só fui entender isso depois.

- Eu tenho um presente pra ti!

- Presente? Por que?

- Não se faça de bobo.

Caramba Vini, agora a minha situação estava crítica e eu não tinha a menor noção disso. Tanto que continuei comendo as poucas batatas fritas que restavam no meu prato. Analisando agora, acho que ela achou que eu estava debochando, porque o diálogo continuou e o tom de voz dela começou a subir(sim, ela é um pouco estressadinha, como toda mulher é):

- Mas amor, eu não estou me fazendo de bobo(e não estava mesmo). Não tenho a menor ideia do porquê você tem um presente para mim hoje.

- Tá. Deixa assim(como quem diz "para de fingir seu filho da mãe"). Adivinha o que é...

- Um livro?

- Não.

- Um DVD do Elvis?

- Não.

- Um carrinho de controle remoto(nesse ponto eu estava querendo brincar com ela, pena que...)

- Ah, vai se catar seu idiota. (ainda bem que ela não atirou o presente na minha cara). Toma(ela praticamente jogou o presente no meu colo).

- Bah... até parece que tá naqueles dias... amor, você está naqueles dias?(a minha ironia atingiu o ápice)

- Ai...

E ela saiu, esbravejando. Ah, quanto ao presente, era um dicionário de mandarim. Completo. Gigantesco. 6.800 páginas. 30x28 a altura pela largura dele. Não me pergunte como ela carregou aquilo na bolsa e tirou da mesma com apenas uma mão. Acho que nem ela sabe.

Bom, terminei o meu prato, comi o resto do prato dela(eu estava com uma fome incrível naquele dia, até parece que estava prevendo o pior. Então voltei para o trabalho.

Não falei com ela durante a tarde. Tentei ligar, deixei recado no orkut, twitter, facebook, myspace, enfim, em tudo quando é lugar. No msn ela não me respondia, mesmo estando online. Comecei a descofiar de que ela estivesse achando que eu estava traindo ela. Mas desisti logo da ideia porque nunca dei motivo para isso. Seria a minha falta de sensibilidade para com o presente dela? Seria a minha ironia durante o almoço? Respostas que só encontraria se perguntasse para ela.

E lá fui eu Vini. Ela saía do trabalho meia hora antes de mim. Então decidi dizer ao meu chefe que precisava sair antes por que...

- Sim Billi, pode sair antes. Eu sei que hoje é dia dos namorados.

Puts. Caramba. Filha da mãe. Droga! Merda. Eu esqueci que era dia dos namorados. E agora, o comércio fecharia em alguns minutos. E eu lá, sem saber o que fazer. Em casa não tinha nada para fazer um jantar especial pra ela. Nem dinheiro eu tinha comigo. Que droga.

Mesmo assim, fui bem louco, a fim de levar umas bofetadas mesmo, falar com ela. E fui mesmo.

- Amor, o que eu fiz pra você hoje?

- Nada(aprendi com alguém que eu não vou falar quem é, que quando uma mulher diz que nada aconteceu ou que você não fez nada para ela, é porque a sua situação está bem ruim).

- Claro que eu fiz. Você nem me respondeu direito.

- Não aconteceu nada Billionárico(segundo sinal, ela me chamou pelo nome completo).

- Se não tivesse acontecido, você não me chamaria pelo nome completo.

- É...

- Eu sei, desculpa pelo meu jeito no almoço mas...(é em momentos como esse que eu me arrependo de nunca anotar esses dias "especiais", mesmo achando que o dia dos namorados é uma data hipocritamente comercial)... mas é que o que eu preparei pra ti hoje não pode ser entregue. Eu não tenho guardado no bolso...

- Sei...(sim, ela sabia que eu tinha esquecido, mas fingiu não saber só para ver se eu conseguiria não me enrolar na minha mentira)

- Sabe nada. Tu não sabes que vamos jantar fora hoje e depois assistir uma peça do Shakespeare(nesse momento eu me concentrei em uma oração, pedindo para Deus me iluminar e permitir que eu achasse um restaurante com reserva disponível e ingressos para a peça do Shakespeare que seria apresentada naquela noite).

- Sério? (a minha mentira começou a valer a partir desse momento. Só eu não sabia se isso seria bom ou ruim. Porque afinal de contas, se não desse certo, ela teria bons motivos para me chamar de mentiroso e nunca mais olhar para a minha cara. Mas claro, se desse certo, eu seria um gênio)

- Sim, é sério.

- Então vou pra casa agora me arrumar, depois você passa lá e vamos. Ai... pensei que você tivesse esquecido, que boba eu né?! Desculpa amorzinho...

Sorriso amarelo meu e uma ideia na cabeça: "EU TENHO QUE CONSEGUIR OS MALDITOS INGRESSOS PARA SHAKESPEARE".

Voltei para casa correndo e fui atrás do número da empresa que estava organizando a peça. E SIM, tinha ingressos. Caramba. Ia dar certo. Mas...

Bom, a coisa começou a piorar para o meu lado. Para a minha sorte, só não estavam vendidos os dois ingressos mais caros. A melhor visão, no camarote, comidinha e bebida de fresco de graça, mas eram 220 reais cada ingresso. Aiaiai... Não que eu ganhasse mal, mas para quem queria ir para a Europa fazer um curso e ficar por lá trabalhando, eu precisava economizar. Mas tudo bem, ninguém mandou eu ser idiota né?!

Tá, o principal tava feito. 20 horas começava. Eu iria pegar os ingressos na hora. E pagar na hora, claro. É para dias como hoje que serve ter um porquinho. Droga, tive que quebrá-lo. E ainda me sobrariam 60 reais. Mesmo assim, decidi, que antes de passar na casa dela para pegá-la, passaria no banco e retiraria mais algum dinheiro.

Me arrumei todo, fiz a barba, botei um desodorante e até um perfume que ela tinha me dado(e que eu só usava quando ia sair com ela para jantar). Tudo nos conformes. Coloquei até terno para que os caras do teatro não complicassem. Eu estava do jeito que nunca gostei de estar: engomadinho e esnobe, vestido de rico mesmo. Que droga. Aquela gravata era pequena e apertava o pescoço, mas ninguém mandou eu ser mentiroso.

Aí fui.

Vini, a coisa só não ficou pior porque ela me perguntou, quando cheguei na casa dela, em que restaurante iríamos depois do teatro. Maldita hora em que eu fui esquecer de ligar para os restaurantes bem conceituados, e claro, esnobes, para tentar fazer uma reserva. Mas tudo bem.

- É surpresa amor...

- Ai... estou tão empolgada com essa noite. Você é o melhor namorado do mundo.

Uma tragédia era iminente. Mas mesmo assim eu continuei.

- Não faço nada além do que você merece.

Pronto, ganhei o coração dela e uma paz momentânea com aquilo. Mas então fomos ao teatro. Confesso que eu estava ansioso para assistir Shakespeare, afinal, é um clássico, mas queria ter pensado nisso antes, pois 440 reais era muito para mim.

Chegando lá, o recepcionista, ou seja lá o que for, fez a parte dele:
- Suas entradas senhor.

- Eu reservei o camarote Vip. Não tenho os ingressos mas apresento o número que me deram e a identidade.

- Ah sim, o senhor é que comprou os ingressos há alguns...

- Dias.

Ele queria me ferrar, então tive que cuidar do que ele falava e interromper sempre que necessário.

- Certamente. São poucos que aproveitam todas as vantagens do camarote Vip, espero que os senhores aproveitem bem. Tenham um bom espetáculo.

Vini, se não fosse um grande espetáculo eu juro que armava uma confusão. 440 reais... ai...

Mas tudo bem. Começou a peça e eu, precisando achar um restaurante para depois, fingi uma dor de barriga e saí para poder ligar. Meus créditos estavam acabando. A bateria do celular estava acabando. Liguei para 3 restaurantes que conhecia o número e nada. Tudo bem, voltei a fim de contar a mentira para a minha namorada quando ela disse:

- Amor, se você não está bem é melhor irmos para casa e não para um restaurante depois.

Eu ganhei. Eu ganhei. Mas precisava terminar genialmente a noite. O dia, aliás.

- Mas eu queria tanto te proporcionar uma noite inesquecível...

- Mas você não está bem. E a peça está fantástica. Que bom que você se lembrou que é a minha favorita de Shakespeare.

Eu fui ao céu depois daquilo.

Sim, eu sei, menti, foi errado, mas será que essas mentiras não serão perdoadas na hora do juízo final? Não sei, mas acho que o sorriso dela será o meu perdão.

Era isso Vini, o que tinha para te contar. Espero que não tenhas lido à noite, pois pela extensão da história, tu irias dormir. Mas não sei. Tu sempre foste do contra. Talvez seja nisso também.

Um abraço!
Billi J."

6 comentários:

Cammy S. disse...

Era dia dos namorados?
kkkkkkkkkkk
Quee diia meu amigo,depois de um desses você deve ter ficado exausto!

Unknown disse...

Nossa, típico dia que tudo dá errado! Coitado do Billi, eu iria me jogar pela janela na hora em que soubesse o preço dos ingressos.

Anônimo disse...

Muito bom

acho que a profundidade psicológica do Billi é interessantíssima

muito bom mesmo

Yasmin disse...

OIIIIIIIIIIIIiiiiiiiiiiiiiiiii
virei sua seguidora
quando puder passa no meu blog e vira minha seguidora tbm???
vlw
parabéns pelo blog

Camila disse...

Prefiro a verdade, por mais que doa, pois é com ela que aprendemos.

Anônimo disse...

ehauehuaheauh ainda bem que ele tinha a grana, se fosse eu.. duro do jeito que sou.. ficaria só na vontade. e nesse caso com a verdade, que venhamos seria desastrosa.