"Estava sentado,
sozinho, em um dos bancos, com um livro nas mãos, isolado de todo aquele
barulho que havia ali. Lá. Em todos os lugares a minha volta. Como um gênio
incompreendido, estava distante de um mundo ao qual, de fato, nunca pertenci e
do qual, não por menos de sessenta razões, não queria pertencer. A minha
leitura, aquelas palavras e a certeza de que a espera acabaria em alguns
minutos ratificavam minha escolha.
Como nada na
minha vida é básico, e você sabe bem disso, algo estranho, pontual, aconteceu.
Ela era loira,
deveria ter uns 20 anos, alta, usava uma daquelas botas de couro que só filhas
de pais ricos usam, e estava com um café nas mãos. Não sei dizer se era bonita
ou não porque, na verdade, quando a olhei, já estava sentada ao meu lado e somente
seu cabelo pode ser visto pelo canto do meu campo de visão. Sorvia um café com
regularidade, logo após um pequeno sopro. Não sei se fez algo além disso
porque, como disse, apenas a olhei de lado. E meu livro estava bem mais
interessante.
Não tenho muitas
relações sociais e, embora a Renata me apresente várias pessoas todas as vezes
que saímos juntos, não mantenho contato com nenhuma delas, deles, enfim.
Confesso que senti-me um mau educado porém não fazia muita diferença, aquelas
pessoas geralmente me olhavam de cima a baixo procurando defeitos em minha
aparência e no meu tortuoso jeito de andar.
O fato é que
essa pessoa sentou ao meu lado, do nada, e começou a conversar. Estranho, achei
que pediria alguma ajuda em trabalhos da faculdade ou informações sobre a
previsão do tempo até o final da semana entretanto, para minha surpresa,
conversava tranquilamente, sem pedidos ou afins, comentando sobre as últimas
notícias no mundo, política e até mesmo futebol.
E foi falando. E
o livro parecia cada vez mais distante da minha atenção. Ela falava bem, com
calma e português impecável.
Talvez fosse a
exceção de uma regra quase absoluta naquele ambiente... sem adjetivos.
Então, assim
como chegou, saiu. Despediu-se, também com educação, e dirigiu-se a algum
lugar. Não acompanhei-a com os olhos porque, apesar da surpresa, não achei que
aquilo significasse grande coisa. Talvez por tudo que aconteceu anos atrás,
talvez porque não tenha mais paciência para aproximar-me amigavelmente de
alguém, talvez porque estivesse preocupado com o que poderiam inventar para a
Renata, não sei. Muitas possibilidades passaram pela minha cabeça.
Continuei a ler
mas, algumas frases depois, parei.
Senti-me então,
como naqueles filmes da Sessão da Tarde, onde há uma aposta entre dois sujeitos
para levar uma menina feia e desengonçada para um baile. Sou feio e
desengonçado, ou seja, não sou do tipo que as pessoas querem conhecer. Ela era
loira – e isso não é provocação! haha -, falava corretamente e tinha opiniões
sobre acontecimentos mundanos e esse rebuscamento, mesmo que parcial, diminui
ainda mais a possibilidade de interesse dela por conhecer-me.
Mas... é
estranho.
E... que baile?
B. Johansson"
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