segunda-feira, 11 de junho de 2012

Histórias do Billi J. - Estranho

"Estava sentado, sozinho, em um dos bancos, com um livro nas mãos, isolado de todo aquele barulho que havia ali. Lá. Em todos os lugares a minha volta. Como um gênio incompreendido, estava distante de um mundo ao qual, de fato, nunca pertenci e do qual, não por menos de sessenta razões, não queria pertencer. A minha leitura, aquelas palavras e a certeza de que a espera acabaria em alguns minutos ratificavam minha escolha.

Como nada na minha vida é básico, e você sabe bem disso, algo estranho, pontual, aconteceu.

Ela era loira, deveria ter uns 20 anos, alta, usava uma daquelas botas de couro que só filhas de pais ricos usam, e estava com um café nas mãos. Não sei dizer se era bonita ou não porque, na verdade, quando a olhei, já estava sentada ao meu lado e somente seu cabelo pode ser visto pelo canto do meu campo de visão. Sorvia um café com regularidade, logo após um pequeno sopro. Não sei se fez algo além disso porque, como disse, apenas a olhei de lado. E meu livro estava bem mais interessante.

Não tenho muitas relações sociais e, embora a Renata me apresente várias pessoas todas as vezes que saímos juntos, não mantenho contato com nenhuma delas, deles, enfim. Confesso que senti-me um mau educado porém não fazia muita diferença, aquelas pessoas geralmente me olhavam de cima a baixo procurando defeitos em minha aparência e no meu tortuoso jeito de andar.

O fato é que essa pessoa sentou ao meu lado, do nada, e começou a conversar. Estranho, achei que pediria alguma ajuda em trabalhos da faculdade ou informações sobre a previsão do tempo até o final da semana entretanto, para minha surpresa, conversava tranquilamente, sem pedidos ou afins, comentando sobre as últimas notícias no mundo, política e até mesmo futebol.
E foi falando. E o livro parecia cada vez mais distante da minha atenção. Ela falava bem, com calma e português impecável.

Talvez fosse a exceção de uma regra quase absoluta naquele ambiente... sem adjetivos.
Então, assim como chegou, saiu. Despediu-se, também com educação, e dirigiu-se a algum lugar. Não acompanhei-a com os olhos porque, apesar da surpresa, não achei que aquilo significasse grande coisa. Talvez por tudo que aconteceu anos atrás, talvez porque não tenha mais paciência para aproximar-me amigavelmente de alguém, talvez porque estivesse preocupado com o que poderiam inventar para a Renata, não sei. Muitas possibilidades passaram pela minha cabeça.
Continuei a ler mas, algumas frases depois, parei.

Senti-me então, como naqueles filmes da Sessão da Tarde, onde há uma aposta entre dois sujeitos para levar uma menina feia e desengonçada para um baile. Sou feio e desengonçado, ou seja, não sou do tipo que as pessoas querem conhecer. Ela era loira – e isso não é provocação! haha -, falava corretamente e tinha opiniões sobre acontecimentos mundanos e esse rebuscamento, mesmo que parcial, diminui ainda mais a possibilidade de interesse dela por conhecer-me.

Mas... é estranho.

E... que baile?

B. Johansson"

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