terça-feira, 26 de junho de 2012

Histórias de uma vida não vivida (49)


*Cansei dos otimistas, daqueles que acham que o copo está sempre meio cheio - ah, quanta bobagem em tão poucas palavras - e daqueles que querem ver sempre o lado bom das coisas. Aproveitar e desfrutar das derrotas, do sofrimento e da dor também é bom, é importante, é necessário. Entenda, não há masoquismo nisso, apenas a consciência de que nem sempre tudo está bem, tampouco algum dia tudo, sem exceção acaba por estar bem e bom. Sempre falta alguma coisa. Porém, o outro lado da corda também se encaixa nisso. Nunca tudo está ruim. Sempre há algo bom para ver, apreciar, desfrutar, viver. Não há otimismo nisso como não há masoquismo em saborear a derrota, não só para evitá-la em ocasião futura mas também, e mais importante ainda, para reconhecer-se como humano, falho, incapaz de, por si só, chegar à perfeição. Não há conformismo preguiçoso nisso tudo. O que há é a necessidade de que Alguém nos ajude a levantar e recomeçar. Por isso é necessário aprender a perder.

Nunca fui de dar ouvidos ao que os outros diziam para mim, mesmo pessoas queridas, próximas, familiares, tias babonas e, claro, minha mãe, para quem a minha existência não passa de mera formalidade daquele ditado que diz ‘durante a vida, plante uma árvore, escreva um livro e tenha um filho’. Por mais estranho que possa parecer, acreditei, dia desses, que os outros poderiam ter alguma razão sobre a minha trajetória nesse mundo. Por alguns instantes, mas acreditei.
Diziam-me sempre, de várias maneiras:

“Batalhe, mas espere com tranquilidade pois a felicidade um dia baterá à sua porta.”

Sempre tomei isso como uma bobagem positivista de pessoas que, por mais que tivessem boas intenções,  jamais levaram em conta todos os fatos transcorridos na minha vida. O pior dessa história chegou quando, em um daqueles acasos hollywoodianos, alguém quase espancou a porta da minha casa, dias atrás.

Atendi e, caramba, uma mulher muito bem vestida, extremamente atraente, olhos claros, sorriso brilhante, estava ali, parada, a esperar-me. Primeiramente, claro, não consegui sequer abrir a boca para pronunciar, parecia que... banal mas sim, parecia que a morte havia chegado mais cedo e agora estava pisando no céu. Depois, consegui pronunciar um:

- Oi?

- Oooooooooooooooi!

E ela sorriu. Ainda mais. Pensei que, se estivesse humanamente vivo, ali morreria porém, para minha infelicidade, continuava vivo.

- ... – hesitei, não sabia o que dizer.

- Quer me dizer alguma coisa?

- Quem é você?

- Eu sou a felicidade! – e conseguiu o que eu jamais imaginaria: aumentou ainda mais a intensidade daquele sorriso.

Agora entendem por que acreditei que a felicidade havia batido à porta, como todos haviam dito, certo? Então, a história continuou quando eu... bem, o diálogo fala – sem redundância – por si.

- Quem?

- Felicidade.

- De que?

- O que?

- Felicidade do que?

- Sua felicidade! – e não parava de sorrir, sem parecer falsidade. Aquela simpatia era... bem... muito... enfim.

- Minha? Não, quero saber seu sobrenome.

- Não tenho sobrenome. Me chamo felicidade, e sou sua.

Antes de continuar, é bom deixar claro uma coisa: isso não é um sonho erótico escrito por um garoto de 15 anos incansável na busca por um beijo na boca. Tampouco é o roteiro de uma comédia do Chris Rock ou do Adam Sandler. E não, eu juro, isso não é mentira!

- Minha?

- Sim! Você lutou, buscou, fez o possível e agora estou aqui porque você merece ter a mim em sua vida.

- Cadê a câmera?

- Que câmera?

- Isso só pode ser pegadinha do programa do Sílvio Santos ou um novo quadro do Pretinho Básico.

- O que é isso?

- Ah, deixa pra lá. Sério, que brincadeira sem graça é essa que aqueles chupadores de manga dos meus colegas de trabalho aprontaram? Quanto te pagaram para vir aqui tirar sarro da minha cara?

- Não estou entendendo. – e parecia realmente perdida com as minhas palavras.

- Não é brincadeira?

- Não.

- Ninguém te pagou, mesmo?

- Claro que não. Você mereceu, agora me tem por inteira. Não há pagamento, dinheiro, etc. Há apenas a sua recompensa por tantas horas de dedicação às coisas boas.

- E porque ela não veio em forma de um bilhete premiado da mega-sena?

- Você preferiria que fosse um pedaço de papel no meu lugar?

Insisto, não há nada de erótico aqui. E mais, olhava para ela que me arrependi por ter mencionado o tal bilhete. Ela era simplesmente parte de um sonho. E claro, de uma Ferrari dirigida por um jogador de futebol.

- Não, eu acho que não. Era só para saber se era verdade.

- A felicidade bateu na sua porta, deixa ela entrar, vai?

Me rendi. Sorri e...

- Claro, me faça feliz, felicidade!

Pessoas como eu merecem, mesmo, que coisas como estas aconteçam.

- Haha, otário. Acorda para a vida maníaco solitário.

-  Ãhn?

Ela puxou a porta, fechando-a na minha cara. E saiu.

Não sei de onde veio, quem era, quem idealizou aquilo ou... se filmaram ou não. Em todos os casos, escrever isso garante que, se virem por aí um vídeo com uma pegadinha dessas, vão poder perceber que talvez eu tenha sido... inocente demais, achando que... bom.

Muitos haviam me dito que a felicidade bateria à minha porta então... não custava tanto assim acreditar, embora tenha hesitado um pouco mas... sim, pode rir porque...

... a felicidade bateu na minha porta e me chamou de otário.

E eu continuei aqui, sem entender nada.

Nenhum comentário: