terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Ecos da sinceridade - Publicar, gostar e respeitar


Na mesma medida em que busca seu espaço, o ser humano tem a tendência de querer limitar o espaço dos outros. Espaço, nesse caso, não condiz muito com o significado físico da palavra mas sim com a interação dele com o meio, em si. É proporcional essa busca por demonstrar quem se é e aquela vontade de fazer com que o outro seja o mais parecido consigo e, portanto, limitado dentro de um ponto de vista que não o dele.

A prova disso está na enxurrada descomunal de atualizações e postagens em redes sociais. É tão bom mostrar aos outros coisas engraçadas, gostos e fotos, músicas e links que levam a páginas que mostram um pouco de como sou e do que gosto mas... é tão ruim ver que tantas e tantas pessoas não gostam das mesmas coisas, preferindo fotos, tipos de humor em forma de atualizações que destoam daquelas que publico. Por que eles não podem gostar da mesma coisa que eu gosto? Essa é a pergunta que muitos se fazem e, em um surto de sabedoria inacreditavelmente egocêntrico, ainda complementam com um 'eles seriam melhores se gostassem das mesmas coisas que eu e, portanto, deixassem de postar toda essa porcaria que tanto me irrita'.

Nunca ouviu alguém comentar algo próximo disso? Tenho certeza, absoluta, que sim, mesmo que apenas uma vez. Existem os que não deixam isso transparecer, existem os que criticam as pessoas publicamente, existem os que não se importam com isso e aqueles que optam por não ver tais atualizações - com bloqueios, cancelamento de assinaturas, unfollows e afins.

Quem pensa que o seu gosto é melhor do que o do outro - sinceridade, todos pensamos dessa maneira algum dia - deveria se perguntar, ao invés 'por que ele não gosta das mesmas coisas que eu?', alguma coisa como 'por que eu não posso gostar do que ele gosta?'. Isso vai contra a sua personalidade? Duvido, novos gostos, novas experiências e novas ideias são bem-vindas sempre, desde que haja consciência de que elas não podem fazer mal algum para você. Experimentar faz parte da vida - e dizer na frase anterior que não deve haver malefício algum nesses gostos, experiências e ideias, deixa bem claro que drogas e situações que vão contra o que é melhor para você não precisam ser vividas para saber que são ruins - e, então, não faz mal se algum dia você ouvir, por conta própria, a música que o seu amigo ou conhecido ouve e que, por algum motivo, você julga detestar. Gostar de rock e não de pagode quer dizer que rock é melhor do que pagode para mim, mas não é, necessariamente, melhor em absoluto, um conceito com o qual todos deveriam concordar.

Não quer fazer aquilo, não quer alimentar a si mesmo com novidades? Tudo bem, a maioria convive com preconceitos bobos e arrogantes, não há nada de muito grave nisso, a não ser a perda de boas oportunidades em pró da manutenção - desnecessária - do meu alter ego. Essa situação passa a ser problema quando você é intolerante com gostos, palavras, atitudes e, nesse século XXI, atualizações alheias. Discriminar, irônica, sarcástica ou diretamente, vai contra a ideia de liberdade de expressão que todos, direta ou indiretamente, defendemos. Se eu posso, por que alguém específico não pode?

Odeio o que ele publica? Bloqueie, cancele as atualizações e pare de achar que o que você gosta é melhor do que o que aquele sujeito gosta. Aceitar as diferenças é, além de um gesto de maturidade, uma necessidade para manter o equilíbrio racional em uma sociedade intolerante.

Discorde, sim, toda forma de expressão que vai contra os seus ideais e as suas convicções porém, respeite, de qualquer forma, o que a outra pessoa está publicando. Ter opinião e mostrá-la ao mundo não é errado - muito pelo contrário, é o que fortalece as nossas crenças. Errado seria, sem dúvida, dizer que uma pessoa é idiota, estúpida e coisas piores apenas por acreditar em Deus, gostar de Madonna ou achar que 'A turma do Didi "é o melhor seriado de comédia já feito.

Você discorda, não acredita ou prefere outra coisa? Tudo bem mas... aprenda a respeitar.

Canso de ser tachado de tantas palavras por ser católico e ter fé em Deus. Canso de ser tachado de radical quando digo que é preciso abrir mão de várias coisas para viver de maneira coerente com aquilo em que acredito. Quase perco a paciência quando me dizem que Big Brother não é um programa patético. Porém, há muito tempo, deixei de inferiorizar pessoas que discordam de mim. Discordo, sim. Argumento, também. Só não tenho direito algum de querer obrigar as pessoas a serem como eu sou, a pensarem da mesma maneira que penso.

Entender tudo isso me fez aceitar, numa boa, ser chamado de velho e antiquado quando digo que gosto de Beatles, Who e Creedence. Algum dia atiraria uma pedra na pessoa que me dissesse que Luan Santana é melhor do Foo Fighters. Hoje, dou risada e aceito numa boa ser um ancião em meio a uma geração de jovens 'livres'. Até porque, meus amigos gostam de muitas coisas que não gosto e, por aceitá-los e respeitá-los, como amigos e indivíduos, vejo que essas amizades só cresceram quando abdiquei de colocar meus gostos como superiores ou corretos. O são para mim mas, como já escrevi, essa superioridade não é absoluta, não é senso comum, não é toda a paisagem. É apenas o pedaço que eu vejo da imagem.

Por fim, não há sinceridade na verdade quando ela é vivida por obrigação. Escolher a verdade, o amor e a sinceridade, de maneira coerente, foi opção minha. Se as pessoas escolhem outros valores, desvalores ou me acham um completo idiota por isso, tudo bem, cada um é livre para pensar e, se for um pensamento próprio - livre de influências obrigatórias, como tantas que aparecem por aí - haverá até mesmo vontade de conversar sobre essas diferenças.

Desde que não me digam... rhá, brincadeira.

*só, por favor, não coloquem brincadeiras
relacionadas a gostos nessa história de seriedade.
Até porque, assim como faço brincadeiras com
os gostos alheios, ironizo e tiro sarro dos meus próprios gostos.

Um comentário:

Gabriela Marques de Omena disse...

Aquela velha história da humanidade acreditar que possivelmente haja uma verdade universal, quando não há.
Concordo totalmente com você, acho bacana respeitarmos os gostos alheios, até mesmo porque como você mesmo citou: isso demonstra maturidade de nossa parte.
Mas, francamente, Vini, não tive como tolerar e não deixar de bloquear o ultimo garoto que vivia compartilhando fotos de mulheres seminuas... Pra mim, isso já é um certo exagero.


Beijo doce.
Ótima semana