terça-feira, 28 de julho de 2009

O que será que vem depois?

Wander Wildner - No ritmo da vida


Estranho esse sentimento. Não de fim. Mas de interrupção. Momentânea. Estranho. Como um carro que não pode seguir viagem por uma cratera aberta na pista. E você não ganha compensação do idiota que colocou uma dinamite no meio da estrada e acabou com a sua viagem.

Mas você não pode culpar o idiota da dinamite, porque teria que culpar o cara que paga o salário dele, pois sem dinheiro ele não compraria nada. E teria que culpar os pais dele, por gerarem um filho assim. E teria que culpar o idiota que vendeu a dinamite pra ele. E o cara que fabricou a dinamite. E o dono da fábrica de dinamite.

Teria que culpar meio mundo e umas 20 gerações do mesmo. E teria que culpar as 20 gerações anteriores a essas. Enfim, teria que culpar a história da humanidade. A sua mulher, que iria com você nessa viagem. Ela que insistira tanto na ideia de viajar, de respirar um ar puro, pra te afastar dos teus problemas rotineiros. E teria que culpar a pessoa que deu a ideia a ela. E as outras que estavam na conversa.

Teria que culpar Deus, por permitir que tudo isso acontecesse com você, e o diabo, por ter dado um empurrãozinho para que você fosse o prejudicado. Teria que culpar o dia, o sol, o pavil, o fósforo e as fábricas dos mesmos. Teria que culpar o Henry Ford por ter inventado um carro, o Santos Dummond pelo avião não ser algo particular para algumas pessoas, e a revolução inglesa pelo capitalismo. Tudo.

E adiantaria alguma coisa?

Não, porque o lugar onde você iria, teria vários problemas. Teria muito barulho, ou nenhum barulho. Muitos aparelhos tecnológicos ou nenhum. Teria uma recepcionista gostosa que você não poderia nem olhar direito. Teria um cara chato que não te serviria as refeições direito, e ainda te chamaria de idiota pelas costas.

Então, o que fazer?

Matar o cara, pedir divórcio para a esposa, processa a fábrica de dinamites, o governo, a polícia e nunca mais entrar numa igreja e rezar.

Acho que não, né?!

Sentimento de interrupção. Abandonar um projeto. Um caminho.

Mas quem sabe um dia voltar a passar pelo mesmo lugar, nem que seja para ver se já consertaram. E aquela curiosidade de 'como será depois daqui?' certamente vai ficar na mente... mas esse será um outro texto. Ou não.

Um comentário:

Anônimo disse...

Oi, gostei bastante de seu texto. É engraçado a forma como você mostrou como tudo está encadeado e como haveria muita gente para culpar. Já tinha pensado em coisas parecidas. Por vezes parece que teríamos de culpar até ao Adão e a Eva; portanto cada um tem de se responsabilizar pelo que faz, porque se for para jogar a culpa noutros, é como você disse: tinha de se culpar a Humanidade.